Cagney

Na sequência do texto anterior lembrei-me do um filme bastante antigo em que o James Cagney fazia o papel de um duro gangster da Nova York dos anos 30. Penso que o filme era o "Angels with Dirty Faces" de 1938. Lembrei-me deste filme porque, como expliquei, o papel dos réus nos julgamentos de Cardassia era o de transmitirem aos seus concidadãos o conforto de verem que a Justiça era feita.

Neste filme de 1938, James Cagney é visto como um herói por um grupo de pretensos gangsters juvenis. A postura de Rocky Sullivan, a personagem de Cagney, é de desafio e desprezo perante a justiça. Rocky é julgado e condenado à morte mas nunca vacila. Olha o juiz nos olhos e ri-se. Nos momentos antes de percorrer o corredor da morte, o seu amigo de infância, Jerry Connolly, que se converteu de miúdo duro em padre, pede a Rocky que deixe a sua postura altiva. Como lhe explica o padre Connolly, aqueles miúdos veem-no como um ídolo e imitá-lo-ão no seu percurso de crime e homicídio. A não ser que Rocky mostre medo e arrependimento. Isso destruiria a imagem idealizada que os adolescente faziam dele e deixariam de o ver como um ídolo a seguir. Rocky poderia assim afastar estes jovens de uma vida de crime e até de um destino idêntico. Este recusa rebaixar-se e a dar essa satisfação aos guardas prisionais e mesmo à sociedade, afastando o padre. Mas a meio do corredor da morte apercebe-se finalmente da verdade das palavras do seu amigo e da nobreza do seu pedido e perde toda a compostura, gritando, esperneando e chorando enquanto os guardas surpreendidos o levam de rastos para a sala de execução. A notícia dos últimos minutos de vida de Rocky tem o efeito esperado sobre os miúdos de rua.