terça-feira, 10 de julho de 2012

Dois cromos de platina

Sou ouvinte assíduo da Caderneta de Cromos do Nuno Markl, da qual sou fã (na vida real, não no Facebook), mas fiquei em êxtase, quase a atingir o orgasmo, com dois fabulosos cromos: Chucky, o boneco diabólico e Já fumega. A qualidade do texto do primeiro é estrondosa. O Markl estaria particularmente inspirado, quem sabe depois de uma noite de sexo fantástico ou talvez após um período de jejum sexual ou simplesmente porque dormiu bem... ou ainda por outra razão qualquer. A verdade é que o ritmo imposto pelo texto é extremamente envolvente, de grande qualidade e divertido. Não é alheio ao factor envolvência a utilização da banda sonora do filme, num volume que me parece mais alto que o costume, mas que alcança um resultado muito bom. Digamos que o Markl conseguiu algo que os comentadores de futebol em Portugal nunca conseguiram: fazer o seu comentário utilizando o ruído de fundo do estádio para transmitir a atmosfera do jogo.


O segundo cromo, que na realidade é o primeiro do dia, tem o grande mérito de me ter feito ver a grande qualidade do grupo português Jafumega. Quando as músicas passavam pela rádio eu não ligava pevide à música... pensando bem, ainda não ligo. Seja como for, a verdade é que ouvindo este cromo com a música da banda em fundo se torna flagrante a sua qualidade. Algumas piadas fantásticas como a comparação do estilo da banda ao de uma associação de professores de trabalhos oficinais. O que é fantástico é que, não me recordando do aspecto dos Jafumega, mas perscrutando os confins da minha mui depauperada memória, ao reunir o único professor de Trabalhos Oficinais que tive com a prof e o prof de Educação Visual que tive em anos distintos, heis que se me forma uma imagem com grande precisão do aspecto que deveriam ter os Já Fumega. Bom, é claro que antes da piada já o Markl tinha feito uma descrição com grande detalhe da banda. E para confirmar a precisão da imagem reconstituída na minha mente, nada como uma pesquisa para confirmar o resultado:




Oh Diabo...! Parece que os professores de trabalhos oficinais do Markl seguiam um estilo de vestuário diferente dos meus... bom, enfim, talvez não ande muito longe da verdade.


Bom, não vamos deixar que um pequeno soluço estrague um dos melhores Cromos que ouvi nos últimos tempos. Como no anterior, a banda sonora deste Cromo cria uma um ambiente fantástico em que a qualidade das letras se combina com o excelente texto do Markl.


Para dizer a verdade, os Cromos sobre música e sobre bandas musicais são os de que gosto menos. Não é uma coisa de agora. Já nos tempos de antigamente, quando os programas do Herman José passavam pelo Serafim Saudade sentia um tédio de morte. Também nunca achei grande piada a concertos. O mês passado fui ver a Madonna a Coimbra e para dizer a verdade para mim não resultou.


Mas os Jafumega eram mesmo muito bons.



sábado, 19 de maio de 2012

A História não acaba. Ponto.

Capa do livro "A História não acaba assim" de Miguel Sousa Tavares


Miguel Sousa Tavares publicou recentemente o livro "A história não acaba assim", um conjunto de textos seus publicados no Expresso e no Público, expondo muitos dos desmandos, falcatruas e más decisões que paulatinamente têm vindo a afundar este país. Acho que se há algo que este livro demonstra é que não será por falta de liberdade de expressão que o país não avançará. Pelo que li e oiço de Miguel Sousa Tavares, os actos são identificados e os responsáveis apontados. Mas de que serve? Este misto tão português de falta de vergonha na cara, brandos costumes e fraca legislação ou falta de vontade de a aplicar, permitem que a incompetência e a corrupção lavrem sobre a pouca riqueza que este país ainda possa ter e produzir, como se de um fogo de Verão se tratasse. Que vantagens nos trouxe então a democracia? Podemos queixar-nos com relativa segurança, uns com tribuna, outros no café, mas sem abusar, porque em Portugal até os corruptos têm direito ao seu bom-nome. Pensei comprar o livro, mas de que me serve saber quem me rouba se nada posso fazer a esse respeito? Acho que só serviria para me irritar mais. Para além disso não tem versão para Kindle.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Ser louco ou não ser louco, heis a questão

Quando alguém comete um acto de que a maior parte das pessoas mentalmente sãs nunca seria capaz, existe a normal tentação de pensar que o autor só pode ser louco. Mas a História, desde a mais distante à mais recente, demonstra que quase todas as barbaridades já foram cometidas e a questão da loucura não se colocou nem tão pouco poderia ser utilizada como argumento. Encontra-se em julgamento o cobarde Anders Behring Breivik, que assassinou 77 pessoas num só dia mas não enfrentou um único homem armado. Estando determinada a sua culpa, o tribunal tenta apurar o seu grau de sanidade. Foi sugerido que Breivik poderia estar num estado psicótico no dia em que cometeu o atentado à bomba e a chacina na ilha de Utoeya. Esse argumento parece insustentável se tivermos em conta que Anders começou a planear e montar os atentados no ano de 2002. Seria um muito longo estado psicótico, embora seja honesto da minha parte admitir que não faço a menor ideia se é comum ou possível um estado psicótico durar 10 anos. Mas sei que essa justificação não é obrigatória. Todos os dias são assassinadas pessoas em assaltos, umas vezes por grandes quantias, outras nem por isso. No México são assassinadas e mutiladas pessoas todos os dias na luta pelo controlo do narcotráfico junto à fronteira com os EUA. Em 1994, no Ruanda, os membros da etnia Hutu perseguiram e chacinaram 800 mil Tutsis ao longo de 5 meses. Os sérvios fuzilaram 8.000 bósnios num só dia. Os soviéticos executaram 22 mil polacos no Massacre de Katyn. Como é bem conhecido, os nazis conduziram uma política de extermínio dos judeus, tendo eliminado 6 milhões nos campos de concentração. E não faltam na História muitos e muitos e muitos mais exemplos de mortes por motivações políticas, religiosas, pela luxúria do poder, pela ganância ou simplesmente pela sobrevivência. Muito dificilmente se poderia argumentar que do lado confortável do gatilho ou da catana esteve sempre um psicótico temporário.

No caso de Breivik tratou-se de uma estranha mistura de narcisismo com xenofobia e um extremo desprezo pela vida humana.

São ou não, o maior castigo para Breivik seria o seu internamento psiquiátrico. Seria o maior golpe para o seu ego.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Atira, atira!


Marcelo Rebelo de Sousa é uma jóia de pessoa. Primeiro há que agradecer o serviço público que presta com regularidade e que consiste em explicar o que Cavaco pretende dizer sempre que coincide mexer a boca, com expirar e fazer vibrar as cordas vocais. É verdade que é um processo complicado, o que pode explicar a quantidade de vezes que é necessário explicar os conceitos que passavam na cabeça de Cavaco quando calhou tropeçar na língua. E talvez por ser tão frequente de certa forma compreendo a preocupação do Professor com a prática nacional do tiro ao Cavaco. Na minha perspectiva chega a ser cobardia criticar Cavaco. É como pregar partidas a um ceguinho ou ver um bêbado a dirigir-se para uma estrada movimentada e em vez de o tentar impedir, procurar o melhor local para colocar a cadeirinha para assistir ao espectáculo. Afinal, a culpa não é dele, ele simplesmente não é capaz de fazer melhor. Infelizmente, porque a sua profissão a isso obriga, não pode deixar de se pronunciar. É uma pena para ele a para o país.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Padrão Presidencial

O nosso actual Presidente da República (PR) segue um padrão muito interessante. Quando lhe fazem perguntas incómodas começa por responder tentando colocar-se acima dos restantes mortais e depois desvia a conversa. Quando lhe perguntaram sobre as acções do BPN, a resposta do PR foi que era tão honesto, mas tão honesto, que qualquer pessoa teria de nascer duas vezes para ser mais honesta do que ele. Quando lhe perguntaram qual a razão que o levou a dar meia-volta no percurso para a António Arroio, começou por responder que foi uma razão de força maior, que no passado, enquanto Primeiro-Ministro já tinha enfrentado muitas situações de vários tipos, passando depois a divagar sobre questões de economia. Quando a pergunta foi repetida por outra jornalista, perguntando-lhe qual teria sido a razão de força maior, teve o descaramento de dizer seguia a política de, uma vez respondida uma pergunta, não voltar a respondê-la. Ao que a jornalista retorquiu que ele não tinha respondido exactamente à pergunta que lhe tinha sido colocada. Mas esta já não teve direito a resposta por parte do PR.

Cavaco Silva sabe em que país vivemos. Sabe que não estamos em Inglaterra onde um ministro acusado de ter convencido a mulher a assumir uma multa de trânsito que era dele se demite quando o caso é conhecido. O ex-ministro demitiu-se para que as suas responsabilidades não fossem prejudicadas pela distracção decorrente do processo judicial que inevitavelmente se seguiria. Também sabe que Portugal não é a Alemanha onde o Presidente se demitiu por indícios de suborno. Na Alemanha o Ministério Público não se ensaia de pedir o levantamento da imunidade do próprio Presidente se houver indícios de prevaricação.

Sobre Cavaco muitas dúvidas se abatem, mas Cavaco nunca se sente abatido. Cavaco, o homem que nunca tem dúvidas e raramente se engana, seguramente por influencia divina, está acima de explicações. O que acaba por ter as suas vantagens porque já se percebeu que quando Cavaco se alonga no discurso facilmente mete os pés pelas mãos. Cavaco é o homem que se pode dar ao luxo de se queixar das dificuldades que tem em fazer face às suas despesas mensais, esquecendo-se de referir € 11.800,00 dos  rendimentos mensais do seu agregado familiar. Não fosse pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e nunca ninguém saberia o que o PR pretendia dizer em vez do que na realidade disse.

Num país onde muitos parecem imunes à responsabilidade criminal, não é de estranhar que as responsabilidades moral e política sejam conceitos alienígenas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Morrer todos morremos

Tanta gente a rejubilar pela morte de um homicida triplo e não se apercebem que o homem matou duas mulheres e uma menina e ainda escolheu quando e como morrer. O homem furtou-se à Justiça, a 25 anos entre quatro paredes com o desprezo e violência dos restantes reclusos e com o remorso diário pela barbaridade que cometeu. Trata-se de um homem que tinha sido diagnosticado com depressão crónica e para quem a morte foi seguramente uma libertação. Mas não falta quem pense que o verdadeiro castigo foi a antecipação de algo que a todos está reservado. Exercitem esse cérebro, faz-vos falta.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

E agora, algo completamente diferente


Uma das grandes pedras de toque da Apple é que a Microsoft se limitou a copiar as suas ideias na criação do Windows. O processo evolutivo do Windows foi marcado por inúmeros processos da Apple por infracção de diversas patentes, sendo assumido que no início a Microsoft utilizou mesmo determinados componentes e conceitos patenteados pela Apple, uns através de licenciamento, outros nem por isso. Mas parece que finalmente a Microsoft criou uma interface realmente diferente. A nova interface do Windows Phone 7 tem um paradigma completamente diferente relativamente às interfaces do iPhone (iOS) e do Android, sendo que o Android se colou muito ao iPhone em termos gráficos. No fundo, as interfaces do iPhone e do Android passam muito por uma adaptação do conceito de área de trabalho (desktop) com a interacção pelo toque. Já a Microsoft optou por um conceito completamente inovador que se centra no conteúdo em detrimento do impacto gráfico. Esta interface segue uma linguagem de desenho a que a Microsoft chamou Metro e que a própria Microsoft descreve da seguinte forma:

"Metro is the name of the new design language created for the Windows Phone 7 interface. When given the chance for a fresh start, the Windows Phone design team drew from many sources of inspiration to determine the guiding principles for the next generation phone interface. Sources included Swiss influenced print and packaging with its emphasis on simplicity, way-finding graphics found in transportation hubs and other Microsoft software such as Zune, Office Labs and games with a strong focus on motion and content over chrome.

Not only has the new design language enabled a unique and immersive experience for users of Windows Phone 7; it has also revitalized third party applications. The standards that have been developed for Metro provide a great baseline, for designers and developers alike. Those standards help them to create successful gesture-driven Windows Phone 7 experiences built for small devices."

A PC Word faz uma análise comparativa dos 3 sistemas operativos que é muito interessante. Resta saber se   a opção da Microsoft vai convencer os utilizadores de telemóveis, que têm tendência a optar mais em função do brilho que da facilidade de utilização.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Lonesone Dove


Há uns anos atrás passou Lonesone Dove, uma mini-série fabulosa transmitida em quatro episódios e somando 6 horas. Tratava-se de um Western, filmado em  baseado numa novela com o mesmo nome e que ganhou o Prémio Pulitzer. A série propriamente dita teve 18 nomeações para os Emmys, das quais conquistou sete, tendo ainda ganho dois Golden Globes. É uma das melhores séries que já vi, magistralmente interpretada por Tommy Lee Jones (Capitão Woodrow F. Call) e Robert Duval (Capitão Augustus "Gus" Mc Crae) no papel de dois rangers reformados que decidem levar gado de Lonesone Dove, Texas, para o Montana, acompanhados por um grupo de vaqueiros. Uma das melhores cenas da série, passa-se numa pequena cidade onde a comitiva pára para comprar abastecimentos e o Capitão Call se apercebe de que um batedor da Cavalaria está a espancar o seu filho. Esta cena é o primeiro resultado que se obtém quando se pesquisa "Lonesone Dove" no YouTube:


"I can't tolerate rude behaviour in a man"

Não atingindo os níveis de quase hiper-realismo cru de Deadwood, uma série de HBO de 2004, o argumento de Lonesone Dove é cativante, a realização é eficaz, a fotografia tem excelente qualidade e as personagens são bem construídas e excepcionalmente bem representadas. Trata-se de uma série imune à passagem do tempo e que será sempre agradável revisitar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Economista que não sabia gerir as suas despesas



Cavaco Silva, economista, professor de Economia, ex-Primeiro Ministro e actual Presidente da República levantou a hipótese de vir a ter dificuldades em fazer face às suas despesas. Aparentemente, as duas pensões a que Cavaco tem direito enquanto professor reformado e reformado do Banco de Portugal e que totalizam 10.000 € por mês, poderão não ser suficientes para dar resposta às necessidades do casal Silva. Para completar as contas convém não esquecer a pensão da esposa de Cavaco de cerca de 600 € mensais. As pessoas poderão perguntar-se como pode ser possível que um casal daquela idade possa ter dificuldades financeiras quando aufere 10.600 € por mês. Bom, na realidade é um fenómeno muito comum. A minha mulher é analista de crédito e conta-me imensos casos deste género que lhe passam pelas mãos todos os dias. Há várias situações que levam a que pessoas com rendimentos muito elevados possam não ter dinheiro suficiente para as suas necessidades. Na realidade é irrelevante quanto é que uma pessoa ganha. Seja muito ou pouco, é sempre possível assumir responsabilidades acima da respectiva capacidade financeira. Existem inúmeras situações que podem levar a este desiquilíbrio financeiro na vida de um casal. Por exemplo, um ou ambos os membros do casal poderão ser susceptíveis ao vício do jogo. Muitas vezes trata-se de créditos acumulados em inúmeras empresas financeiras de concessão de crédito (CETELEM, Cofidis e outras do género). Utilização abusiva do cartão de crédito. Recurso sistemático ao saldo negativo da conta ordenado. Por vezes trata-se de pessoas que se constituíram fiadores para o empréstimo de um familiar ou amigo, sendo que esse familiar ou amigo deixa de honrar as suas responsabilidades e o fiador tem de assumir a o pagamento do empréstimo. Noutros casos as pessoas até tinham capacidade financeira para as responsabilidades que tinham assumido mas um dos membros do casal é despedido e as entradas descem para um nível abaixo das saídas (este caso sabemos que não se aplica porque são ambos reformados e o Cavaco tem emprego). Se calhar o casal Silva comprometeu-se a pagar o ballet, a equitação, as aulas de inglês, francês e mandarim, bem como o ténis e o golfe de todos os netos e sobrinhos. Ou a esposa de Cavaco estoura o cartão de crédito todo em chapéus e vestidos. A questão é que não é difícil gastar mais de 10.600 € por mês... mas também é verdade que para se chegar lá é preciso parar de controlar as próprias contas. E esperava-se mais de um economista que já geriu o país enquanto Primeiro-Ministro e que é actualmente Presidente da República.

Público: Cavaco diz que as reformas dele não chegarão para pagar despesas

P.S.: A estas contas falta ainda acrescentar os € 2.500,00 mensais a que Cavaco tem direito a título de despesas de representação. Somando tudo o casal Silva tem direito a uma renda mensal de € 13.100,00. Coitados.

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