terça-feira, 22 de novembro de 2005

Um gajo morre

Imaginemos que os católicos e outros têm razão e que de facto vamos parar ao céu. Imagino que tenhamos a oportunidade de olhar para a nossa vida terrena e ver tudo o que fizemos nesta Terra. Já imaginaram o potencial que esta situação tem no que diz respeito a elaboração de estatísticas? Por exemplo. Hoje tive de ir a uma farmácia de serviço. Fui na carrinha da minha mulher que é a que está à frente. Pus em altos berros um disco da Madonna que ela lá tinha e lá fui a esticar a carrinha. Quando cheguei a casa fiz como costumo fazer e subi os cinco andares a pé em vez de utilizar o elevador. E então lembrei-me: vim a gastar gasóleo à parva, mas pelo menos poupei na electricidade do elevador. Retomando o pressuposto inicial, não seria interessante que postumamente pudéssemos quantificar o gasóleo e gasolina que gastámos em toda a nossa vida? De forma directa e indirecta. E quanta electricidade gastámos e quanta poupámos. E por exemplo saber o dia em que gastámos mais energia em toda a nossa vida. E será que conseguimos fazer essas contas de cabeça e instantaneamente ou teremos de utilizar uma máquina de calcular divina? Ou será que temos de Lhe pedir uma audiência para que nos esclareça? Nesse caso convinha apontar todas as perguntas que gostávamos de lhe colocar... espera, Ele é omnisciente, nem seria necessário colocar-lhe as perguntas. Provavelmente mal entrássemos na sala Ele começaria imediatamente a responder às nossas dúvidas mais intímas... mas vendo bem, sendo Ele também omnipresente é bem provável que não fosse necessário sequer marcar audiência. Será que sempre que tivéssemos dúvidas Ele aparece e nos responde? Instantaneamente? E partindo do princípio que no Paraíso ou no Céu ou lá o que é não temos frio, será que andamos nus? E somos anjos? Os anjos não têm sexo, certo? Será que os anjos são todos assexuados, género rapazes sem pila. Ou será que existem anjos com e sem mamas? E em princípio não teriam também nádegas. Será que têm todos o mesmo penteado? Será que têm traços distintos ou serão estilo clones? Ou se calhar nem têm forma corpórea. Era o que fazia mais sentido, acabava-se a discussão relativamente ao sexo. Uma névoa não tem forma. Lá estou eu a tender para representações com massa. Os anjos seriam provavelmente meras existências. Consciências autónomas, dispersas pelo tempo e pelo espaço. Com percepção de si próprias mas sem sensações terrenas. No fundo apenas colectoras de informação do passado e do presente. Do futuro? Teriam noção de conforto? Teriam fobias? Por exemplo, uma dessas consciências no espaço sideral poderia sentir agorafobia, medo dos espaços abertos? Uma coisa é certa: não teriam dores de costas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Benzós Deus, nem tudo está perdido

Os habitantes de Dover algures nos EUA votaram esta terça-feira (8 de Dez de 2005) contra a alteração do programa escolar que a direcção da escola local pretendia introduzir. A ideia era acrescentar ao programa uma teoria alternativa à da Evolução e que é designada por concepção inteligente. Dizem os defensores desta teoria que o universo é tão complexo que tem de ter sido criado por uma entidade superior. Género Deus.

Como o povo de Dover não foi na conversa, Pat Robertson, fundador da Coligação Cristã e da Christian Broadcasting Network, disse-lhes que se houvesse alguma catástrofe natural na zona que não fossem pedir ajuda a Deus, já que lhe tinham virado as costas. Valha-nos Deus tanta estupidez.


"Evangelist says voters reject God

A US Christian evangelist has told a Pennsylvania town not to ask for God's help if disaster strikes after it voted against teaching intelligent design.
"

in BBC News

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Como é que isto é possível?

Esta história dos tumultos em França é pura e simplesmente inconcebível. Como é que possível que noite após noite sejam incendiados centenas de carros sem que a polícia consiga fazer detenções de monta nem interromper o ciclo de violência?

Eu não conheço bem a França mas lembro-me de um filme que vi há uns anos que abordava a problemática dos bairros dos subúrbios, cheios de jovens emigrantes de segunda geração. Nestes bairros existe uma situação de paz podre ou de guerra não declarada em que os jovens vêem a polícia como inimiga e a polícia vê-os como uma cambada de inúteis que ou estão a roubar ou a drogar-se. E este clima, embora relatado num filme, deve ser o que ainda hoje reina neste tipo de bairros. Estes emigrantes de segunda geração, que afinal não são emigrantes coisa nenhuma, encontram-se num limbo de cidadania. Se por um lado nasceram em França e são cidadãos de pleno direito, por outro não se revêem na cultura de um país que os mantém em bairros dormitório, cinzentos e sem outros estímulos que não os da violência. Mas também não se vêm como cidadãos dos países de origem dos seus pais ou avós, países esses onde se calhar nunca puseram os pés. São como apátridas culturais que rejeitam o seu país, sentem uma atracção pelas suas origens, mas também não as compreendem de forma consequente. As taxas de sucesso escolar destes adolescentes são necessariamente baixas e as hipóteses de alguma vez abandonarem aqueles bairros são remotas. Estão assim presos numa realidade que odeiam e não concebem uma forma de lhe escapar. O Governo não encontra ou não procura formas de melhorar as perspectivas destas pessoas e elas próprias não são capazes de alterar a sua situação. É num clima deste género que a notícia de que dois jovens morreram electrocutados enquanto fugiam da polícia cai que nem uma bomba e dá origem aos primeiros tumultos.

Mas será que o facto de dois miúdos terem morrido a fugir à polícia, mas sem intervenção directa desta, pode justificar oito dias de tumultos? Eu acho que não. Parece-me que o que se passou é que o primeiro dia mostrou que é possível causar pânico e destruição sem consequências. Num estado de direito a polícia não pode simplesmente começar a disparar contra tudo o que se mexa. E para queimar um carro basta uma pessoa, o que aliado ao facto de que ser impossível ter 1 polícia a cada 10 metros, faz com que seja possível passear pelas cidades a incendiar carros uns a seguir aos outros sem que a polícia o possa evitar.

Apercebendo-se de que é possível cometer estes actos impunemente, estes jovens que viveram toda uma vida de exclusão e violência e não têm mecanismos morais que os controlem, repetem as acções de destruição noite após noite. A acirrá-los existe ainda o factor competição entre gangues. Se um destruiu 100 carros, o outro quer destruir 200. Acabou por se criar uma luta pelo poder que se baseia não no combate entre os gangues mas na afirmação do seu poderio pela destruição de carros, mobiliário urbano e neste momento até edifícios.

E tudo isto tem algum objectivo? Existe de facto algum protesto com exigências por trás de toda esta violência? Não me parece. Tudo isto me parece de uma irracionalidade talvez resultante da desumanização criada pelo modelo de bairros dormitórios, hoje já se percebeu que não funciona mas que ainda existe e não desaparecerá tão cedo.

Passeios espaciais



A New Scientist costuma ter uns artigos porreiros e encontrei este sobre um passeio espacial que está planeado para hoje às 14h30. Têm de fazer várias reparações e uma das que vão fazer é a remoção de uma sonda de flutuação potencial (Floating Potential Probe, era o que lá dizia, não me perguntem o que isso é) que já não funciona e está a ficar solta. Eles vão simplemesmente soltá-la e atirá-la na direcção da Terra. Dizem que daqui a 100 dias deve entrar na atmosfera, queimando-se completamente.

Ao ler isto surgem-me várias dúvidas. Por exemplo, qual é o tamanho máximo de um objecto para garantir que é completamente consumido na entrada na atmosfera? Depende certamente do material. Por exemplo, se estivermos a falar de diamante industrial, qual é o tamanho máximo que pode ter para termos a certeza de que se desintegra completamente e não acerta na cabeça de ninguém?

Outra dúvida: na entrada na atmosfera, as coisas entram em combustão devido ao atrito do objecto com a atmosfera, resultante das enormes velocidades a que estas entradas são feitas. Mas não é possível chegar à atmosfera a uma menor velocidade? Se o objecto estiver em órbita geo-estacionária e descesse de forma controlada não seria possível manter uma velocidade suficientemente reduzida para evitar todo aquele fogo-de-artifício? Possivelmente isso não é possível porque a energia necessária para controlar essa descida deve ser astronómica. Tenho de perguntar isto a alguém.

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Vão por muito mau caminho

Um amigo enviou-me um artigo do Guardian Unlimited que fala de algo curioso que está acontecer nos dias de hoje. Os EUA estão a usar campos de prisioneiros em países do antigo bloco soviético para deter indefinidamente suspeitos de terrorismo por períodos indeterminados e sem qualquer contacto com o exterior, na maior parte das vezes em condições desumanas. Mas o melhor do artigo é a referência a um pedido ao Congresso feito por Dick Chenney, Vice-Presidente dos EUA e Peter Gross, director da CIA, para isentar a agência das leis que proibem o tratamento desumano e cruel de prisioneiros. Esta gente quer poder fazer tudo o que lhes der na gana a qualquer pessoa que os olhe de lado. Se não for terrorista, azar.

Isto representa uma ameaça à Democracia tão grande quanto o terrorismo.

"EU to investigate secret CIA jails

Staff and agencies
Thursday November 3, 2005

The European commission is to investigate claims the CIA is holding al-Qaida captives at Soviet era compounds in eastern Europe.

The detention centres are part of a global internment network that includes Guantánamo Bay, Cuba and the Bagram air base in Afghanistan, according to the Washington Post.
(continuar a ler)"

in Guardian Unlimited

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Queres doar esperma? Será boa ideia?

Encontrei esta notícia estonteante na New Scientist. Um rapaz de 15 anos que foi concebido por inseminação artificial com esperma doado anonimamente, conseguiu descobrir o pai utilizando um conjunto de empresas acessíveis pela net. Basicamente o miúdo enviou o seu próprio ADN para análise para uma empresa que faz estudos geneológicos. Com essa informação obteve um apelido de outros dois homens com um cromossoma Y que dava 50% de hipóteses de serem do mesmo pai. Com essa informação e mais algumas que a mãe tinha acerca do dador de esperma (o pai do puto), comprou a uma segunda empresa os nomes de outros homens com características semelhantes. Um deles tinha o mesmo apelido que ele tinha obtido inicialmente.

Esta história é assustadora e estonteante. Por um lado porque acaba com o mito do anonimato dos dadores de esperma. E por outro porque um rapazinho de 15 anos conseguiu ter o engenho para utilizar um conjunto de serviços disponíveis na net para, com algum dinheiro, identificar um entre os 125 milhões de homens que devem viver nos EUA.

E põe-se um conjunto de questões éticas relativamente ao anonimato dos dadores de esperma. Será que um homem que contribua para a geração de uma criança, ainda que de uma forma tão indirecta, tem o direito de exigir anonimato absoluto? Será que uma mulher tem o direito de conceber uma criança negando-lhe à partida um pai?

No Reino Unido já não existe a garantia de anonimato. E identidade dos dadores é guardada e pode ser revelada à criança a partir de determinada idade.

Eu nunca fiz tal doação, só mesmo sangue, mas imagino que alguém que vá a um desses serviços, vai lá com a ideia de ver uns filmes porno, bater uma e receber uns trocos. Acho que nunca mas nunca dispensará dois segundos ao resto do processo em que o seu esperma venha a ser utilizado. E a última coisa em que deve pensar será que eventualmente uma criança nascerá e que ele estará irremediável e indelevelmente ligado a essa criança através da sua herança genética.

"LATE last year, a 15-year-old boy rubbed a swab along the inside of his cheek, popped it into a vial and sent it off to an online genealogy DNA-testing service. But unlike most people who contact the service, he was not interested in sketching the far reaches of his family tree. His mother had conceived using donor sperm and he wanted to track down his genetic father. (continuar a ler)"

in New Scientist

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