O nosso actual Presidente da República (PR) segue um padrão muito interessante. Quando lhe fazem perguntas incómodas começa por responder tentando colocar-se acima dos restantes mortais e depois desvia a conversa. Quando lhe perguntaram sobre as acções do BPN, a resposta do PR foi que era tão honesto, mas tão honesto, que qualquer pessoa teria de nascer duas vezes para ser mais honesta do que ele. Quando lhe perguntaram qual a razão que o levou a dar meia-volta no percurso para a António Arroio, começou por responder que foi uma razão de força maior, que no passado, enquanto Primeiro-Ministro já tinha enfrentado muitas situações de vários tipos, passando depois a divagar sobre questões de economia. Quando a pergunta foi repetida por outra jornalista, perguntando-lhe qual teria sido a razão de força maior, teve o descaramento de dizer seguia a política de, uma vez respondida uma pergunta, não voltar a respondê-la. Ao que a jornalista retorquiu que ele não tinha respondido exactamente à pergunta que lhe tinha sido colocada. Mas esta já não teve direito a resposta por parte do PR.
Cavaco Silva sabe em que país vivemos. Sabe que não estamos em Inglaterra onde um ministro acusado de ter convencido a mulher a assumir uma multa de trânsito que era dele se demite quando o caso é conhecido. O ex-ministro demitiu-se para que as suas responsabilidades não fossem prejudicadas pela distracção decorrente do processo judicial que inevitavelmente se seguiria. Também sabe que Portugal não é a Alemanha onde o Presidente se demitiu por indícios de suborno. Na Alemanha o Ministério Público não se ensaia de pedir o levantamento da imunidade do próprio Presidente se houver indícios de prevaricação.
Sobre Cavaco muitas dúvidas se abatem, mas Cavaco nunca se sente abatido. Cavaco, o homem que nunca tem dúvidas e raramente se engana, seguramente por influencia divina, está acima de explicações. O que acaba por ter as suas vantagens porque já se percebeu que quando Cavaco se alonga no discurso facilmente mete os pés pelas mãos. Cavaco é o homem que se pode dar ao luxo de se queixar das dificuldades que tem em fazer face às suas despesas mensais, esquecendo-se de referir € 11.800,00 dos rendimentos mensais do seu agregado familiar. Não fosse pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e nunca ninguém saberia o que o PR pretendia dizer em vez do que na realidade disse.
Num país onde muitos parecem imunes à responsabilidade criminal, não é de estranhar que as responsabilidades moral e política sejam conceitos alienígenas.
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