Através de um outro blogue encontrei este artigo de um tal James Howard Kunstler que constrói um retrato muito assustador do futuro com base no argumento de que a economia do petróleo chegou a um pico. Ou seja, segundo Kunstler, 2005 será o ano em que se extrairá o máximo de petróleo que alguma vez se extraiu e daí para a frente a quantidade de petróleo disponível diminuirá de acordo com uma curva elíptica. A acrescentar a esse facto há ainda a característica do petróleo que estará disponível no futuro. Até agora a indústria de extracção de petróleo têm estado a extrair o petróleo mais barato, mais fácil de extrair. Mas com o passar do tempo e com a exploração das reservas conhecidas de petróleo, o petróleo disponível vai sendo cada vez mais difícil de obter, ou porque é preciso perfurar mais fundo, ou porque é de menor qualidade ou porque se encontra misturado com areias. Tudo isto encarece o processo de extracção e como consequência encarece o petróleo e os seus derivados.
Ora Isto é bastante aborrecido porque toda a nossa economia se baseia no petróleo. O nosso modo de vida depende da facilidade de acesso à energia e a esmagadora maioria da energia consumida é sobre a forma de derivados de petróleo. Isto será tanto mais grave quanto se tem verificado um crescimento constante nas necessidades de energia. Ou seja, não só não vai ser possível extrair tanto petróleo como no passado, como a procura de petróleo vai aumentar. Somando 2 + 2 vamos chegar a um resultado que não é 4 mas sim um número muito maior e do qual não vamos gostar nada.
Talvez fosse então boa ideia começar a fazer uma transição para outras formas de energia. O problema é que ainda não existe nenhuma forma de produção de energia que possa dar uma resposta às quantidades de energia exigidas pelo nosso modo de vida. A energia hidroeléctrica já está bastante explorada, a solar não parece ser solução para grandes centros de consumo e a eólica ainda não está suficientemente disseminada e também tem os seus problemas. Estas três fontes de energia juntas representam actualmente uma fatia muito pequena do total das necessidades. Para além disso, pelo menos em Portugal, os Governos têm-se mostrado bastante míopes no que diz respeito ao incentivo à adopção destes tipos de energia. Restam a energia nuclear (fissão) e as células de combustível. A fusão nuclear nunca conseguiu provar ser mais que uma miragem.
As células de combustível funcionam a hidrogénio, mas o hidrogénio representa um conjunto de problemas por si só. E pelo que dizem os entendidos, estaremos ainda a pelo menos 25 anos de os resolver. Esses problemas prendem-se com a produção, distribuição e armazenamento do hidrogénio. Como o hidrogénio não está disponível na natureza de forma livre, é necessário produzi-lo. A sua produção pode ser através de hidrólise, ou seja, a separação da água em hidrogénio e oxigénio utilizando a electricidade. Mas para isso é preciso produzir a electricidade primeiro. É possível ainda extrair o hidrogénio através do gás natural, mas este sofre de problemas idênticos aos do petróleo. Os problemas de distribuição do hidrogénio prendem-se com o facto de o hidrogénio ocupar um volume muito superior ao equivalente em petróleo para a mesma quantidade de energia. O que quer dizer que em vez de um camião de gasolina seriam precisos muitos mais camiões de hidrogénio para transportar a mesma quantidade de energia. Finalmente o próprio armazenamento de hidrogénio é problemático uma vez que este tem tendência a escapar dos depósitos. Isto é especialmente grave se tivermos em conta que o hidrogénio é altamente explosivo. Quanto à energia nuclear, para além dos problemas conhecidos com o armazenamento do urânio depois de utilizado e do potencial para este ser utilizado em armas nucleares, ainda existe o problema de o próprio urânio não ser infinito. Para além destes problemas ainda temos de considerar que a quantidade de centrais nucleares necessárias para produzir a quantidade de energia que nos é fornecida actualmente pelo petróleo, levaria um tempo e investimento considerável.
Curiosamente, esta situação em que nos encontramos é o resultado de termos tido à nossa disposição uma forma de energia de tão fácil acesso. Se não tivéssemos tido acesso ao petróleo teríamos tido de investir mais nas energias renováveis para produzir electricidade ou energia mecânica. Isto implicaria certamente que a curva de evolução tecnológica teria sido consideravelmente mais modesta e a sociedade de hoje não seria nem de perto nem de longe tão tecnologicamente avançada como é. Mas por outro lado este crescimento tecnológico teria sido sustentável. E mais tarde ou mais cedo chegaríamos a uma fonte de energia barata e pouco poluente, ponto a partir do qual seria possível chegar a uma curva de evolução tecnológica idêntica à que tivemos no século XX, mas desta vez sustentável.
A ver vamos.
RollingStone.com: The Long Emergency : Politics"Most immediately we face the end of the cheap-fossil-fuel era. It is no exaggeration to state that reliable supplies of cheap oil and natural gas underlie everything we identify as the necessities of modern life -- not to mention all of its comforts and luxuries: central heating, air conditioning, cars, airplanes, electric lights, inexpensive clothing, recorded music, movies, hip-replacement surgery, national defense -- you name it."
1 comentário:
Não sei se existe de facto um estudo sobre as reservas mundiais de petróleo. Ou seja, de certeza que existem vários, uns devem fornecer valores mais optimistas e outros mais pessimistas. Mas o que existem são indicadores fornecidos pela crescente dificuldade na captação de petróleo e na qualidade do petróleo obtido.
Em relação a energias alternativas elas até existem. O problema é que não são viáveis. Assim de repente lembro-me da energia geo-térmica. O núcleo da Terra é constituído por magma incandescente. Se conseguíssemos aceder-lhe através de furos como fazemos para captar petróleo ou água tinhamos uma fonte de energia virtualmente inesgotável. Há países que têm a sorte de ter essas fontes de energia disponível. Por exemplo, a Islândia aproveita amplamente o facto de estar situada numa zona geologicamente muito activa e obtém grande parte da sua energia a partir de fontes geotérmicas. É claro que a contrapartida é que também têm vulcões activos e arriscam-se a ir todos pelos ares. Mas não se pode ter tudo...
Quanto a um engenheiro (ou cientista) descobrir uma solução, e eu tenho fé de que temos o engenho e que as leis da física o permitem, o que me parece é que estaríamos bem mais perto de a descobrir se não houvesse tanto lobbying a favor da manutenção da economia do petróleo.
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