segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

E quem fala assim...

Gostei da entrevista da Luís Figo no Público. Claro e sem meias tintas. E estou como ele. Gerações sucessivas de políticos têm afundado este país, porventura até ao ponto do não-retorno.

Típica é a reacção dos necrófagos que povoam a caixa de comentários daquele jornal. A maioria apresenta-se muito escandalizada pelas palavras do ex-jogador, mas penso que isso não espelha mais que a corriqueira inveja do portuguesinho. No caso do Figo parece-me que a equação é bastante simples: tornou-se um jogador de excepção, o que o colocou nos maiores clubes mundiais e lhe deu contratos milionários com esses clubes e com grandes empresas que queriam associar a sua imagem à de Figo e estavam dispostas a pagar por isso. E pagaram. E ele recebeu, investiu e fez mais dinheiro. Nalguns casos ganhou, noutros seguramente terá perdido. Qual é o problema? Ninguém se preocupa com o dinheiro que ele perdeu mas todos se sentem muito ofendidos com o que ele ganhou. A inveja é uma coisa muito feia.

http://desporto.publico.pt/noticia.aspx?id=1525463


domingo, 18 de dezembro de 2011

Um sorriso absurdamente longo

Faz-me pena a pobre rapariga que faz aquele anúncio da SIC. Deve ter sido muito duro estar ali aquele tempo todo a forçar toda a variedade possível de sorrisos. Em abono da moça, ninguém conseguiria fazer tal absurdo melhor do que aquilo.

A morte de um ateu

 
Christopher Hitchens ateu indefectível, escritor e jornalista morreu no dia 15 de Dezembro de 2011. Morreu cedo, aos 62 anos, mas teve uma vida preenchida e muito produtiva. Autor de uma extensa bibliografia e colunista, abordava temas políticos, sociais, religiosos e culturais. Mais do que ateu, Christopher autoentitulava-se antiteísta, considerando que a religião era uma força destrutiva e que devias ser combatida. Pouco conheço de Christopher Hitchens. Tenho um livro dele de 2007, "deus não é grande" mas ainda estou no início, é um pouco cedo para ter uma opinião. Mas felizmente nos tempos que correm existe um manancial enorme de intervenções, entrevistas e debates acessíveis no YouTube e que permitem de uma forma fácil conhecer o estilo e argumentos deste pensador. É verdade que esta é apenas uma face da pessoa, porque a capacidade de exposição não é igual na forma verbal e na forma escrita. Mas as intervenções que vi deixam claro que se trata de um homem cheio de humor, de uma grande riqueza cultural e com grande capacidade de argumentação e de sustentação dos seus argumentos. Deixou uma obra de grande dimensão e riqueza que seguramente me enriquecerá muito daqui para a frente.

É claro que a morte de um conhecido ateu deu origem a manifestações de satisfação de muitos energúmenos religiosos que nas suas opiniões boçais e vingativas demonstram à saciedade que Hitchens tem razão quando aponta a religião como um perigo contra a própria civilização. Mas fui agradavelmente surpreendido com um artigo curto mas objectivo do Christian Post sobre a morte do ateu, mostrando que nem todos os crentes carecem de desportivismo e de valores Humanistas como o reconhecimento do direito ao livre pensamento, à opinião e à sua livre expressão.

A minha opinião sobre as religiões é que estas de facto têm um potencial de perigo extremamente elevado, tendo este potencial sido concretizado inúmeras vezes como a História cabalmente demonstra, mas também penso que é justo reconhecer que muitas pessoas são intrinsecamente boas e que é através da sua associação à religião que encontram forma de transformar a sua bondade em resultados práticos, ajudando outros.

Quanto à dimensão de deus, o que eu estranho é que muitos crentes não se apercebam quão pequenino e mesquinho é o deus em que acreditam. Ou seja, quando se regozijam com a morte de um ateu porque finalmente vai ser confrontado com deus e, seguramente, castigado, estão na realidade a passar um atestado de menoridade ao deus em que acreditam. Acreditam num deus vingativo, que toma nota do que as pessoas, no seu livre arbítrio, pensam e fazem, para depois as castigar quando estas acabarem o seu percurso na "vida terrena". Acreditam num deus que castiga a honestidade intelectual de quem não baseia o seu raciocínio num conjunto de dogmas datados e desajustados do actual estado civilizacional, mas antes na observação dos factos tal como se lhe apresentam, no estudo do comportamento humano, da História ou da Ciência. Acreditam num deus que castiga quem tem o desejo de conhecer mais da realidade que o rodeia, das regras que regem o funcionamento de todas as coisas e que não aceitam pretensas "verdades definitivas" escritas em livros recheados de histórias da carochinha.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Não há p'rái uma ilha deserta?



Às vezes ponho-me a pensar se ainda existirão pequenas ilhas desertas capazes de sustentar uma pessoa até ao fim dos seus dias. Teria de ter água limpa, animais, peixes e frutos. Não esquecendo uma boa ligação à net, claro... Não, agora a sério. Por vezes sonho com uma estadia forçada numa ilha deserta. Um dia a dia dedicado à sobrevivência, à criação de um abrigo, à exploração do ambiente circundante, à construção de ferramentas, armas de caça, ao fabrico de roupas e utensílios para cozinhar, etc. Quanto mais exótica for a ilha, maiores os riscos. Animais perigosos, doenças, frutos venenosos e tempestades são riscos associados a uma situação de sobrevivência numa ilha que podem tornar a vida muito complicada. E pequenas coisas ainda mais simples podem significar o fim. Por exemplo, um corte infectado, uma reacção alérgica. O filme "O Náufrago" (Cast Away de Robert Zemeckis) ilustra bem a situação quando Chuck Noland (Tom Hanks) se vê obrigado a arrancar um dente com ferramentas cirúrgicas de precisão (um patim de patinar no gelo e um calhau da praia). Mas de todos os riscos não sei se a solidão não será o maior. Será que a ausência de contacto humano levaria qualquer pessoa à loucura? Será que numa situação destas uma depressão pode sobrepor-se ao instinto de sobrevivência? Será que um náufrago pode pura e simplesmente desistir de viver, parando de se alimentar até a morte chegar?



Chuck Noland minimizou a solidão imaginando Wilson, um companheiro fictício materializado com a ajuda de uma bola de voleibol que um dia acabaria por se furar. Chuck chegou mesmo a discutir violentamente com Wilson e a cortar relações com ele. Algo de que rapidamente se arrependeu.



Voltando aos pormenores práticos, o fogo não é essencial, mas ajuda muito. A comida cozinhada é mais segura, permite ferver água e aumenta a segurança contra animais selvagens. Mas fazer fogo nem sempre é tarefa fácil.

Um náufrago estaria perante muitos desafios, mas será que conseguiria chegar a velho?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Menos um ditador

42 anos de ditadura acabam da pior maneira para Muhamar Kadhafi. Os rebeldes aplicaram ao ditador o mesmo tipo de tolerância e justiça com que este governou a Líbia. Não foi bonito, mas Kadhafi não esperaria com certeza que o fim pudesse ter sido outro. Disse que lutaria até ao fim e quase cumpriu a sua promessa. Morreu sem glória, numa poça de sangue, um espectáculo deplorável que se espera não seja um indício da futura Líbia democrática.

domingo, 16 de outubro de 2011

Conversa fictícia

Há uns tempos atrás decidi passar a andar nu em casa. O meu emprego obriga-me a andar todos os dias de fato e gravata e senti que podia extravasar um pouco libertando o meu corpo de qualquer constrangimento. E seria uma maneira de juntar o útil ao agradável. Ultimamente tenho sentido os testículos demasiado quentes e a exposição ao ar seguramente me faria sentir melhor. De maneira que um dia cheguei a casa, como de costume depois da minha mulher e dos miúdos:
- Vou mudar de roupa - disse eu.
- Ok.

Em vez de despir a roupa do trabalho e vestir a usual t-shirt rota com os costumeiros calções manchados, despi tudo. Voltei à cozinha para fazer o jantar.
- Vais tomar banho?
- Aaaah... não, por que é que perguntas?
- Não estás a pensar fazer o jantar todo nu?!
- Não estou?
- Mas a que propósito?!
- Oh mor, preciso de liberdade. Passo o dia todo com aquela gravata sufocante ao pescoço. Assim nu sinto-me um como um enforcado que conseguiu fugir no último instante. Sinto-me liberto!

Olhou para mim, saiu da cozinha e voltou com uma toalha da cara.

- Toma.

Fiquei a olhar para ela com um olhar expectante.

- Sim?
- Tens de andar sempre com esta toalha.
- Para quê?
- Sempre que te sentares tens de te sentar em cima da toalha.
- Oh mor, então eu livro-me de uma grilheta e tu queres pôr-me outra?!
- É uma solução de compromisso! Achas que eu gosto que andes para aí com tudo a abanar pela casa toda?! Não viste aquele episódio do Seinfeld? (1) Há nu bonito e nu feio. Um homem a cozinhar todo nu com a pila encostada à bancada da cozinha cai na segunda categoria!!!
- Não percebo essa súbita preocupação com a possibilidade de o meu rabo assentar no sofá da sala. Já mocámos éne vezes no sofá e não me lembro de te ter ouvido "Espera mor, deixa pôr esta toalha por baixo, por uma questão de higiene."
- Mas o que é isso, mocar?
- Oh! Sexo, foder!
- FAZER AMOR!!!!
- Pronto, tá bem. Já "fizémos amor" éne vezes no sofá e não me lembro de te ter ouvido "Espera mor, deixa pôr esta toalha por baixo, por uma questão de higiene."
- Não me interessa! Queres andar nu, sentas-te em cima da toalha!

Ao princípio andava com a toalha na mão. Mas não era prático. Depois atei um cordel à volta da cintura onde pendurava a toalha. Mas era ridículo. Tentei então usar só os boxers. Mas embora os meus testículos se sentissem livres que nem um presidiário em precária, não gostava de os ver espreitar quando me sentava com as pernas um bocadinho mais abertas. De maneira que voltei ao velho conjunto t-shirt rota com calções manchados.

É por causa de coisas destas que volta e meia há um tipo nos EUA que se passa e mata os colegas todos no trabalho.

(1)É verdade, nos dias de hoje os diálogos entre mim e a minha mulher até já têm apontadores integrados. (Voltar)

Este texto foi inspirado pela peça "É como diz o outro" encenada por Tiago Guedes com Miguel Guilherme e Bruno Nogueira.

sábado, 15 de outubro de 2011

All work and no play makes Jack a dull boy


Esta ideia de que aumentar o horário de trabalho vai aumentar a produtividade seria muito interessante se não fosse completamente absurda. Aumentar o horário só pode ter uma consequência: o aumento da desmotivação e do sentido de injustiça. Não é que fosse ainda necessária essa medida para os portugueses se sentirem desmotivados e injustiçados. Passos Coelho já tinha conseguido isso com as suas medidas de ataque à classe média, aumentando o IVA e cortando os subsídios de férias e de Natal. Suponho que nesse campo este Governo seja particularmente meticuloso.

O aumento da produtividade consegue-se de várias formas. Não sendo eu um especialista na matéria, acho que ninguém me desmentirá se disser que os aumentos de produtividade se conseguem com medidas de optimização dos processos e com a motivação dos trabalhadores. Nenhum desses caminhos é fácil ou oferece resultados rápidos. Mas se queremos aumentar a produtividade essa é a única forma. O aumento do horário de trabalho vai ter como único efeito que as pessoas em vez de passarem 1 hora a pensar na hora de saída, vão adquirir o dúbio direito a estender por mais meia-hora esse anseio.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um projecto essencial



Ouvi hoje na TSF, na rubrica "Mundo Novo", a descrição de uma nova tecnologia com potencial para revolucionar a pesca industrial e com ganhos vitais para o meio ambiente. É uma técnica designada por "Bubble Net"e que consiste em, nada mais, nada menos, que adoptar uma técnica de pesca utilizada pelas baleias corcundas. Estas baleias criam uma parede de bolhas em espiral em torno de cardumes de peixes, impedindo-os de se dispersar. No fim do processo, a baleia apanha o cardume. A técnica "Bubble Net" consiste em criar uma parede de bolhas através de um conjunto de mangueiras e apanhar os peixes através de uma bomba de sucção. Os ganhos podem ser descritos a três níveis:
  • Redução do impacto de outras espécies que ficam muitas vezes presas nas redes e são devolvidas ao mar já mortas;
  • Melhoria na qualidade do peixe pescado através da redução da manipulação e dos danos causados pelas próprias redes;
  • Maior facilidade no cumprimento das quotas para cada espécie, uma vez que passa a ser possível terminar a captura quando uma vez que a quota tenha sido atingida;
Este projecto de investigação e desenvolvimento pertence ao IPL - Instituto Politécnico de Leiria e encontra-se no processo de patenteamento.

http://www.wix.com/bubblenet/promar#!projecto

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Suspender o Magalhães para avaliar os resultados?

Ora aí está algo de que eu não estava à espera vindo deste Ministro da Educação. Tenho uma excelente opinião sobre Nuno Crato, em especial pelo seu trabalho de divulgação científica a que tenho assistido ao longo do tempo. Nunca fui um espectador assíduo do programa Plano Inclinado, mas dos poucos que vi em que o Nuno Crato participou, tenho a ideia de que sempre apresentou as suas ideias de uma forma equilibrada e ponderada. Estou de acordo que o caminho de facilitismo seguido nos últimos anos vai ter sérias consequências a curto e médio prazo e que o uso de máquinas de calcular até pode ser parte desse problema. Dá-me a volta ao estômago (calculo que a ele também) o trabalho que tem sido feito ao nível da avaliação dos estudantes que basicamente consiste um proibir os professores de os chumbar com o objectivo de fazer os meninos passar o mais depressa pelo ensino obrigatório para finalmente podermos melhorar as estatísticas e mostrar à União Europeia. Estou de acordo que as estatísticas podem parecer bonitas no papel mas que a consequência disso serão gerações inteiras (ou quase) de analfabetos funcionais. Compreendo tudo isso e espero que os próximos governos não insistam no erro, a começar por este XIX Governo Constitucional de Portugal. Mas o que não consigo compreender é que se suspenda o programa de distribuição de computadores Magalhães, uma das boas apostas do Governo Sócrates, com o argumento de que pretendem avaliar os resultados. Gostava que me explicassem que raio de resultados estão à espera que um programa que consiste em entregar computadores portáteis a crianças de 5 anos pode apresentar ao fim de apenas 2 anos!!! Vão ver se os meninos já sabem usar criar pivot tables no Excel? Terão a expectativa que se tenham todos tornado génios da informática de um ano para o outro? Ou será que estão à espera que as crianças já tenham fundado muitas dotComs? Este é um programa, tal como as más opções dos Ministérios da Educação da última década (décadas?), precisa de pelo menos 10 anos para mostrar resultados. Um programa desta natureza iria contribuir em muito para reduzir a info-exclusão. O que se pretende é que esta geração tenha um tal à-vontade com os computadores que estes venham a ser uma ferramenta sem segredos. Tanto quanto eu sei, salvo alguma calamidade que nos leve a todos de volta para a Idade da Pedra, a informática continuará a ser um factor incontornável no futuro. A distribuição dos Magalhães é tão importante para o futuro de Portugal como aumentar o nível de exigência do ensino. Espero que Nuno Crato o compreenda a tempo e que não confunda os computadores com as máquinas de calcular.

sábado, 3 de setembro de 2011

Ad nauseam

Há pelo menos dois romances que já foram explorados ad nauseam e que demonstram uma séria incapacidade da indústria cinematográfica para se renovar. Sim, como provavelmente já devem ter adivinhado, estou a falar do Robin dos Bosques e dos Três Mosqueteiros. O Robin dos Bosques é uma personagem lendária que tem sido explorada em diversas séries e filmes, mas em relação à qual existem referências desde 1420. Foi passada ao formato audiovisual pela primeira vez num filme mudo de 1908, realizado por Percy Stow e com o título de Robin Hood and His Merry Men. Parece o título de um filme de porno gay, mas na altura a produção de filmes devia ser tão cara que provavelmente não existia essa especialidade de pornografia cinematográfica. A Wikipedia tem o registo de nada menos que 47 filmes e 12 séries de televisão, produzidos entre os anos de 1908 e 2011, em que o Robin dos Bosques é a figura central. Os filmes abrangem pelo menos 3 tipos: aventuras, comédia e pornográfico.

O romance Os Três Mosqueteiros foi escrito por Alexandre Dumas "apenas" em 1844. No entanto a dimensão do abuso audiovisual desta obra é só um pouco menor que a da personagem anterior: de 1912 a 2011 existem nada mais, nada menos que 34 adaptações sob a forma de filmes, séries e filmes animados.

Isto para não falar das adaptações ao teatro, à banda desenhada e ainda ao ballet.

Existem ainda outras obras que são muito exploradas, nomeadamente as das personagens Sherlock Holmes, as obras de Jules Verne, entre outras. Mas quer-me parecer que as duas que referi são do mais abusado que se pode encontrar.

Se calhar já chega, não?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Perdidos - O Fim da Série


Terminei de ver esta série fantástica. Embora considere o final à altura do resto da série, não esperava que o fim da série trouxesse um sentimento de paz, de encerramento. Toda o resto da série foi um sufoco de perguntas por responder, cada resposta a gerar mais cinco perguntas, cada episódio acabando sempre com uma injecção de adrenalina, uma sensação de negação, de rejeição por a história só avançar mais na semana seguinte. Habituado a esta sensação contínua, penso que no meu íntimo já me tinha habituado à ideia de que o fim da série seria uma coisa muito mal enjorcada que me deixaria uma sensação de que os argumentistas teriam construído um final à pressa que deixaria muitas pontas soltas e outras mal resolvidas.

É um síndrome típico destas séries. Lembro-me de ver grandes discussões em fóruns sobre os Ficheiros Secretos (X-Files) em que os fãs discutiam que o que verdadeiramente se tinha passado neste ou naquele episódio tinha sido isto ou aquilo. A nítida sensação que eu tinha era que os argumentistas da série não pensavam das perguntas que a série deixava por responder. Ou seja, o subtítulo da série "The Truth is Out There", nunca passou de falsa publicidade. Não há verdade nenhuma porque os argumentistas nunca pensaram nas causas dos mistérios, preocupando-se apenas em criar emoções nos espectadores. O que no fundo também é legítimo: deixavam aos espectadores a opção de imaginar o que entendessem. Mas em Perdidos, os produtores conseguiram concretizar o objectivo de fazer uma série com princípio, meio e fim antes de lhes fecharem a torneira, obrigando-os a deixar a história a meio ou a fazer um fim à pressa, como já vi acontecer em tantas séries. A guerra das audiências é cruel.

Mas voltando aos Perdidos, as respostas chegaram mesmo e o encerramento da série foi extremamente elegante. Achei fabulosa a forma como as personagens se encontram todas na espécie de sala de espera depois da morte que era a realidade alternativa que nos confundiu ao longo da 6ª temporada. A ideia de que cada um morreu na sua hora, mas que todos se encontraram numa vida depois da morte para seguirem juntos para a próxima etapa é muito interessante, dando uma interpretação diferente e mais fácil de compreender da relatividade do Tempo, que já tinha sido explorada noutras temporadas da série. A forma como a morte de algumas das personagens foi representada é também muito comovente. Quando Jin e Sun morrem juntos dentro do submarino, o espectador sente que uma pessoa pode escolher o momento da sua morte. E quando Jack morre olhando para o céu enquanto os seus companheiros sobrevoam a ilha, sentimos que a morte pode ser recebida em paz, com a certeza de que fizemos a diferença. O facto de Vincent, o cão de Walt, encontrar Jack pouco antes da sua morte, permite-lhe ultrapassar o medo de morrer sozinho e torna a experiência libertadora para a personagem e para o espectador. É claro que a série não é perfeita. Com tempo seria muito fácil apresentar incongruências. Mas foi um marco na História da Televisão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Estrumpfes estalinistas

Segundo Antoine Buéno, as histórias de Peyo sobre os minúsculos seres azuis que nomeou de Estrumpfes (Schtroumpfs no original) são a descrição de uma sociedade estalinista. Esta leitura política dos estrumfes é uma delícia. Valeu uma boa gargalhada. Vou já recuperar os meus livros dos estrumpfes e não me posso esquecer de fazer este enquadramento quando contar as histórias aos meus filhos. Quem diria que esta série podia ser utilizada como introdução à política. Só há uma coisa que me faz confusão. Se o Papá Estrumpfe é a representação de Estaline, quem será a personagem histórica correspondente ao Gargamel, o mau da fita? Torna-se particularmente confuso porque Estaline foi uma besta abominável, mas nas histórias de Peyo, era o Gargamel quem ocupava o seu tempo a tentar destruir a povoação de seres azuis, recorrendo aos mais mirabolantes esquemas. Para o retrato histórico ser mais preciso seria necessário que, volta e meia, o Papá Estrumpfe levasse a cabo umas quantas purgas no aparelho político, deportações para locais remotos e gelados, eliminação física dos seus opositores e invasão de regiões vizinhas. E não me parece que a estrumpfina lhe escapasse...

in Público

domingo, 15 de maio de 2011

Biutiful

Este filme é bom, mas é deprimente comó caralho (caro leitor [ah ah ah], poderá querer pôr um piii por cima do caralho. Dessa forma não se sentirá ofendido pelo termo utilizado). No meio daquela desgraça não conseguia deixar de pensar obsessivamente no que iria acontecer àquelas crianças. Felizmente que à hora a que acabei de ver o filme estava a dar o "O Último a Sair". Deu para descontrair um bocadinho. É difícil criar diálogos tão estúpidos, há que reconhecer o valor aos autores. Aquela do Gonçalo a dizer que estava a comer a não sei quantas que estava cheia de creme e que lhe escapava das mãos como se fosse uma sardinha é genial. E o diálogo todo sobre comer a gorda. Impagável.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Boa música


Costumava ouvir a Rádio Europa Lisboa (90.4 MHz) que, se não estou enganado, era a única rádio em Portugal com programação musical quase exclusivamente dedicada ao Jazz. Também têm alguns programas interessantes de debate, entrevistas e informação cultural. Infelizmente a emissão na net não tem estado a funcionar. Espero que não seja mais uma rádio a preparar-se para fechar. Bom, enfim, mas como essa não tem estado disponível tenho ouvido a Radio Swiss Jazz. Tem uma fantástica selecção musical e, que eu tenha percebido, passa música quase sem parar. Não tem outro tipo de programação que não sejam faixas atrás de faixas de excelente jazz. O único senão desta rádio é o separador com uma voz num americano um bocado forçado. Mas nada neste mundo é perfeito.

Podem ouvir em transmissão contínua aqui.

Deixa lá, Jesus...



... ao menos assim não levamos 4 ou 5 do Porto na final. Mas agora a sério. Dois jogos seguidos em que partimos com vantagem e não a conseguimos conservar? Temos de rever a estratégia? Alterar a táctica de jogo? Não estamos a conseguir motivar os jogadores? Alguma coisa está a falhar. Só uma época não devia ser suficiente para esgotar a capacidade de um treinador.

A propósito disto acho que temos de iniciar um novo ciclo de estabilidade no que diz respeito aos treinadores dos clubes portugueses. Em Inglaterra os treinadores ficam anos à frente das equipas. O Fergusson está no Manchester há 25(!) anos. O Arsène Wenger é treinador do Arsenal desde 1996. São 15 anos à frente do clube. Ganhou todos os campeonatos? Não, mas tem um bom palmarés que nunca teria conseguido se a política seguida em Portugal de despedir os treinadores no primeiro ano em que não conseguem ganhar o campeonato tivesse sido seguida pelo Arsenal.

Agora uma aparte. O CV do Arsène Wenger é impressionante, não fazia ideia: Licenciatura em Eng. Electrotécnica, Mestrado em Economia, fluente em francês (língua materna), alemão e inglês, línguas a que junta o italiano, espanhol e japonês. O historial desportivo também é altamente convincente.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ainda o caso Névoa vs Sá Fernandes vs sentido mínimo de Justiça

Ocorreu-me ao ler a minha primeira entrada relativa ao Caso Névoa o que aconteceria se José Sá Fernandes tem aceite os 200 K que Névoa lhe ofereceu. Ocorrem-me pelo menos duas hipóteses:
1. A tentativa de corrupção era descoberta.

Neste cenário será que José Sá Fernandes podia ser acusado de corrupção passiva? Afinal, seguindo a mesma argumentação que ilibou Névoa, se o Zé não podia beneficiar o Névoa e o primeiro não pode ser condenado por tentativa de corrupção, seguramente que o segundo não podia ser condenado por aceitar ser corrompido. A lógica assim o obrigaria. Se a lógica mandasse alguma coisa, está bom de ver.

2. Sá Fernandes nada fazia porque nada podia fazer

Será que o Névoa iria acusar o Sá Fernandes de fraude? Será que os tribunais lhe dariam razão? Afinal Sá Fernandes teria aceite dinheiro para prestar um serviço para o qual não teria competência. Será que neste cenário Sá Fernandes podia alegar que pensava honestamente que podia ajudar o corruptor incompetente e, como tal era ele próprio um corrompido incompetente? Enfim, que não seria fraude uma vez que não sabia originalmente que não podia ser corrompido naquela instância específica? Será que o tribunal o condenaria apenas a devolver o dinheiro ou nem isso e o Zé podia ficar com o dinheiro para montar a próxima campanha autárquica?

Bandas sonoras no YouTube


Eh pá, é fantástico. Com a funcionalidade de criar listas para reprodução e a variedade de bandas sonoras que existe no YouTube é possível passar um dia inteiro a ouvir músicas de bandas sonoras. Particularmente boa para criar aquele ambiente de isolamento necessário para trabalhar é a da série Battlestar Galactica (BSG). Não a original mas o remake. Esta nova versão fica a anos luz da primeira, o que é evidente a todos os níveis: qualidade dos actores, qualidade da banda sonora, construção das personagens, qualidade do enredo de fundo e, sobretudo, a qualidade dos argumentos. Já nem falo na qualidade dos efeitos especiais e da qualidade da fotografia porque essa comparação não é justa tendo em conta que a produção da primeira série foi iniciada em 1978 (incrível, ainda nem aos anos 80 tínhamos chegado) e a segunda série é de 2004.

Será que daqui a 20 anos vou olhar para a BSG de 2004 como um exercício simplório de ficção científica? A verdade é que já li livros deste género dos anos 60 que ainda hoje mantêm a actualidade. Também é verdade que esse exercício de datação é muito mais fácil num filme do que num livro.

sábado, 9 de abril de 2011

O filtro rosa



Gosto de um homem que insiste na sua versão até ao último fôlego. Sócrates é assim. Afinal a coisa estava a correr tão bem, até íamos ter o "nosso" PEC 4 de que tanto gostávamos e que pensámos com tanto cuidado, quando vêm os maus da Oposição e deitam abaixo o nosso menino. Porque o PEC 4 seguramente que ia conseguir aquilo que os outros 3 não haviam conseguido: acalmar os mercados.

Não há ninguém que tire o filtro rosa dos olhos do homem?

sábado, 26 de março de 2011

Rima, mas também dói

Dizia a minha mulher para o meu filho mais velho - "Se não paras com esse barulhão levas um estaladão". Ao que ele responde: "Olha! E até rima!"

domingo, 20 de março de 2011

Os putos não se deixam enganar


Passavam imagens do Portas a falar no XXIV Congresso do CDS que exibia os seus dotes de oratória, quando reparei no meu filho de dois anos e meio. Olhava para a televisão com o sobrolho franzido, visivelmente desconfiado. O diálogo que se seguiu foi curto mas esclarecedor:
- "Filho, este senhor é bom ou é mau?"
- "Mau!"

E pronto, heis como através de um olhar puro e livre de influências podemos conhecer o íntimo dos nossos políticos. Estou a pensar consultá-lo antes das legislativas. Estou desconfiado que seguindo este processo vou ser obrigado a votar em branco.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sai o KDE, entra o XFCE

O meu portátil já tem mais de 4 anos e começa a dar mostras de algum cansaço. Há pouco mais de um ano tinha descartado o Windows XP como ferramenta de trabalho uma vez que se estava a mostrar demasiado pesado. O computador arrastava-se e a ventoinha estava sempre a ligar. Por vezes chegava a desejar temer que o portátil levantasse voo e fugisse pela janela. A verdade é que o Windows XP não é o único culpado da falta de desempenho. O meu portátil é um Dell Latitude D531, comprado em tempos de vacas magras. Foi uma pechincha e eu recebi aquilo que foi pago. A placa gráfica é uma desgraça, o que é evidente sempre que tento ver um filme no YouTube que seja um pouco mais longo. O resultado é invariavelmente o disparar da ventoinha e ao fim de alguns minutos o filme começa a ser mostrado imagem a imagem. Deveras enervante. A compatibilidade da placa de WiFi não é propriamente famosa, o que se tornou claro quando tentei instalar o Kubuntu em dual boot. Primeiro que conseguisse ter rede sem fios foi o cabo dos trabalhos.

Como medida profiláctica (no que diz respeito à minha sanidade mental) acabei por adoptar o Kubuntu como sistema operativo primário. É claro que continuo a precisar do Windows XP para algumas tarefas. Para isso tenho-o instalado como sistema operativo secundário em arranque autónomo e ainda como máquina virtual dentro do Kubuntu. Escolhi o Kubuntu e não o Ubuntu porque gosto do KDE mas do Gnome nem por isso. E durante pouco mais de um ano utilizei esta configuração com algum alívio. Mais recentemente as coisas começaram a piorar em termos de desempenho e consegui um aumento da RAM para 4 GB. Melhorou mas não resolveu a coisa.

O passo que acabei por tomar, em desespero de causa enquanto não me substituem o portátil, foi instalar o XFCE, um gestor do ambiente de trabalho alternativo ao KDE e ao Gnome. É certo que não é tão bonitinho como o KDE. Não tem transparências, nem efeitos especiais quando se muda de área de trabalho. Mas a verdade é que vi uma verdadeira melhoria no desempenho. Verifiquei uma aceleração claramente perceptível em todas as aplicações que normalmente utilizo. Vai requerer alguma habituação, mas parece-me que vai valer a pena.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quando os presidentes e os candidatos batem no fundo

As campanhas eleitorais não costumam agraciar-nos com momentos de elevação dignos de nota. Muito pelo contrário, o que não falta são exemplos que nos envergonham. Mas quer-me parecer que hoje dois dos candidatos, um deles o próprio Presidente da República (PR), deram exemplos do que é bater no fundo. Penso que estes exemplos são dignos de referência numa cadeira de marketing político como algo a evitar. Cavaco utilizou-se da actual situação de crise para apelar ao espírito de poupança dos portugueses. Segundo Cavaco, uma segunda volta na presidenciais representaria um custo a que o país não se pode dar ao luxo. Ou seja, votar em Cavaco é um dever patriótico em prol das Finanças deste Portugal endividado. Será que Manuela Ferreira Leite faz parte da eq1uipa de conselheiros de Cavaco? É bonito ver um direito basilar da democracia como um exercício de poupança financeira. Só demonstra a falta de cultura democrática do actual PR. Demonstra também, como se de mais demonstrações necessitássemos, que Cavaco não serve para Presidente. Pegando no argumentário de Cavaco eu proponho uma forma de tornarmos as eleições ainda mais baratas: vamos eliminar o direito de voto e realizar as eleições através do sorteio do Totoloto. Cada candidato à Presidência apresenta uma selecção de 12 números. Aquele que acertar em mais números no Totoloto ganha. Se houver empates repete-se o processo no fim de semana seguinte só com os empatados. A Comissão Nacional de Eleições só teria de consultar os resultados no sítio da Santa Casa. Penso que é evidente a poupança que este processo traria para o Estado.

(Ler mais neste artigo do Público)

O segundo exemplo de um candidato a bater no fundo foi dado por Fernando Nobre. Num momento de clarividência duvidosa, Fernando Nobre referiu que "as suas fontes" lhe garantiam que nos próximos dias as coisas iam levar uma grande volta. Referia-se aos resultados das sondagens que indicam a vitória de Cavaco à primeira volta. Mas segundo as "fontes" de Nobre, este conseguiria ultrapassar Alegre e disputar a segunda volta com Cavaco. Que fontes serão estas? Alguém próximo de Deus? Ou será alguém que conhece os autores das sondagens e que sabe que estas foram manipuladas para esconder a verdadeira pujança da campanha de Fernando Nobre? [nota: teoria da conspiração descarada] Será que Fernando Nobre se apercebe do ar desesperado (e ligeiramente tresloucado) que transmite quando se refere sucessivamente às suas "fontes" como se conhecesse alguém que conhece as verdadeiras intenções dos eleitores portugueses?

(Ler mais neste artigo do Público)

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