Terminei de ver esta série fantástica. Embora considere o final à altura do resto da série, não esperava que o fim da série trouxesse um sentimento de paz, de encerramento. Toda o resto da série foi um sufoco de perguntas por responder, cada resposta a gerar mais cinco perguntas, cada episódio acabando sempre com uma injecção de adrenalina, uma sensação de negação, de rejeição por a história só avançar mais na semana seguinte. Habituado a esta sensação contínua, penso que no meu íntimo já me tinha habituado à ideia de que o fim da série seria uma coisa muito mal enjorcada que me deixaria uma sensação de que os argumentistas teriam construído um final à pressa que deixaria muitas pontas soltas e outras mal resolvidas.
É um síndrome típico destas séries. Lembro-me de ver grandes discussões em fóruns sobre os Ficheiros Secretos (X-Files) em que os fãs discutiam que o que verdadeiramente se tinha passado neste ou naquele episódio tinha sido isto ou aquilo. A nítida sensação que eu tinha era que os argumentistas da série não pensavam das perguntas que a série deixava por responder. Ou seja, o subtítulo da série "The Truth is Out There", nunca passou de falsa publicidade. Não há verdade nenhuma porque os argumentistas nunca pensaram nas causas dos mistérios, preocupando-se apenas em criar emoções nos espectadores. O que no fundo também é legítimo: deixavam aos espectadores a opção de imaginar o que entendessem. Mas em Perdidos, os produtores conseguiram concretizar o objectivo de fazer uma série com princípio, meio e fim antes de lhes fecharem a torneira, obrigando-os a deixar a história a meio ou a fazer um fim à pressa, como já vi acontecer em tantas séries. A guerra das audiências é cruel.
Mas voltando aos Perdidos, as respostas chegaram mesmo e o encerramento da série foi extremamente elegante. Achei fabulosa a forma como as personagens se encontram todas na espécie de sala de espera depois da morte que era a realidade alternativa que nos confundiu ao longo da 6ª temporada. A ideia de que cada um morreu na sua hora, mas que todos se encontraram numa vida depois da morte para seguirem juntos para a próxima etapa é muito interessante, dando uma interpretação diferente e mais fácil de compreender da relatividade do Tempo, que já tinha sido explorada noutras temporadas da série. A forma como a morte de algumas das personagens foi representada é também muito comovente. Quando Jin e Sun morrem juntos dentro do submarino, o espectador sente que uma pessoa pode escolher o momento da sua morte. E quando Jack morre olhando para o céu enquanto os seus companheiros sobrevoam a ilha, sentimos que a morte pode ser recebida em paz, com a certeza de que fizemos a diferença. O facto de Vincent, o cão de Walt, encontrar Jack pouco antes da sua morte, permite-lhe ultrapassar o medo de morrer sozinho e torna a experiência libertadora para a personagem e para o espectador. É claro que a série não é perfeita. Com tempo seria muito fácil apresentar incongruências. Mas foi um marco na História da Televisão.
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