quinta-feira, 20 de julho de 2006

Mas quais civis...?

Parece-me que o que melhor caracteriza este conflito desesperante é o desrespeito completo e absoluto pelas vidas de civis. Israel ainda tem respeito por alguns civis, nomeadamente os seus. Basicamente a forma como Israel responde aos ataques do Hezbollah é equivalente a alguém que vê o seu carro ser abalroado por outro e não vendo maneira de obter satisfações do culpado ataca indiscriminadamente os donos de carros do mesmo modelo que o atingiu. Se atingir bastantes pode ser que venha ainda a acertar no original.

O Hezbollah não só não se preocupa com o que possa acontecer aos libaneses como faz parte da sua estratégia que Israel responda de forma desproporcionada como tem feito e que haja pesadas perdas de vidas inocentes. Porque ninguém acredita que o Hezbollah mantenha os dois soldados israelistas por acreditar que Israel venha a libertar os prisioneiros árabes que o Hezbollah pediu como moeda de troca.

Mas se não é para obter a libertação dos prisioneiros em Israel, para quê manter os soldados cativos? E porquê manter os ataques a Israel com rockets sobre a fronteira? A resposta é simples. Para obrigar Israel a responder, de preferência com ataques aéreos, castigando os civis libaneses. E o que é que o Hezbollah tem a ganhar com o castigo imposto aos libaneses? Basicamente duas coisas:

  • Crescimento na sua base de apoio junto dos libaneses, que ao serem bombardeados por Israel apoiariam quem o combatesse

  • Um aliviar das pressões internacionais (leia-se EUA e UE) sobre o Irão e a Síria no que diz respeito ao nuclear e ao apoio ao terrorismo



Como não me parece que haja alguma força no Líbano capaz de impedir o Hezbollah de continuar esta guerra pelos seus próprios interesses e contra os do Líbano, é bem possível que em próximas eleições, o Hezbollah venha a reforçar a sua posição no Parlamento. Por outro lado, o que me dá alguma esperança são os testemunhos que tenho lido de libaneses no local. Basicamente encolhem-se resignados lamentando serem novamente arrastados para uma guerra que não é deles.

BBC NEWS | Middle East | Fighting inside Lebanese border

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