sexta-feira, 29 de julho de 2005

A Guerra ao Terrorismo

Toda a gente sabe, estamos em guerra com o terrorismo. Mas será que estamos mesmo? Uma guerra é, ou tem sido ao longo da história, um conflito entre partes que acaba com a capitulação de uma das partes. Ora esta suposta guerra ao terrorismo, a acabar com a capitulação de alguma parte, teria de ser obrigatoriamente do lado dos governos. Isto porque do outro lado não há ninguém que possa dar às tropas a ordem de rendição. Há umas tendência actual para associar o terrorismo apenas com o de origem islâmica radical. Mas convém não esquecer o terrorismo nacionalista basco, o terrorismo do IRA e dos protestantes da Irlanda do Norte (o primeiro muito mais visível que o segundo) e muitos outros exemplos espalhados pelo mundo. Convém não esquecer que nos anos 80 as Brigadas Vermelhas italianas ainda cometeram assassinatos e na Alemanha só em 1998 a Rote Armee Fraktion (RAF) se auto-declarou extinta. Quero com estes exemplos demonstrar que o terrorismo é um meio para atingir fins e que não é exclusivo de nenhuma religião ou ideologia. E arrisco afirmar que o terrorismo nunca se extinguirá, por muita guerra que se lhe faça.

Mas não vale a pena tapar o sol com a peneira. Actualmente, e seguramente desde que a palavra terrorismo é utilizada com o sentido que lhe damos hoje, o terrorismo islâmico é o mais visível, o mais ameaçador e o mais destrutivo. E as coisas tornaram-se tanto mais graves quanto o terrorismo atingiu níveis de organização nunca antes vistos e o requinte de um franchising multinacional.

Mas também é tapar o sol com a peneira pensar que conseguiremos derrotar o terrorismo através de um combate reactivo ou meramente de perseguição e desmembramento das organizações e células terroristas. Se é verdade que temos de estar armados e vigilantes para evitar as acções já preparadas e as outras que o venham a ser, não é menos verdade que essa lógica nos dará possivelmente muitos sucessos mas também nos garantirá alguns insucessos que se manifestam sobre a forma de mortos e estropiados e terror generalizado, preço esse que é inaceitável.

É então crucial trabalhar um pouco mais a montante e perceber as causas e as motivações do terrorismo. E combatê-lo também e sobretudo por aí. Porque o verdadeiro combustível do terrorismo não é o dinheiro de múltiplas actividades ilegais que flui pelo mundo inteiro e desagua em contas de off-shores para financiar as células terroristas, mas sim o ódio e a motivação doentia que leva a que uma pessoa veja como aceitável explodir-se a si próprio para matar o maior número possível de seres humanos às sua volta. A melhor forma de combater os terroristas não é apanhá-los antes que despoletem as bombas, mas sim garantir que nunca venham a ter vontade de o fazer. Os anglo-saxónicos dizem algo que se aplica muito bem ao que quero dizer: when there is a will, there is a way.

O Ocidente tem de se auto-analisar e fazer uma auto-crítica que lhe permita perceber quais as suas responsabilidades na construção deste ódio ao nosso modo de vida e que nos transforma em alvo de bombistas suicidas. Não quero com isto dizer que os países democráticos são os únicos responsáveis pela expansão do terrorismo, mas quem pense que pode sacudir essa responsabilidade e que a culpa é só dos outros, está a contribuir para a manutenção de um terrorismo global saudável por muitos e bons anos.

controversa maresia

3 comentários:

diariodebordo disse...

O IRA não tinha acabado? P'lo menos ouvi qualquer coisa sobre isso... :/ bjokas*

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Pedro, acho que não percebeste a essência do meu texto. Parece-me que o leste um pouco na diagonal:

"Considerando que, se percebi bem, para ti, as razões do terrorismo a nível objectivo é do o dinheiro proveniente de actividades ilegais, depositadas em contas off-shore (...)"

Ora eu não disse nada disso. Aliás, o que eu disse de mais parecido com isso tinha uma negação. Ora repara:

"Porque o verdadeiro combustível do terrorismo não é o dinheiro de múltiplas actividades ilegais que flui pelo mundo inteiro e desagua em contas de off-shores para financiar as células terroristas, (...)"

Repara no "não". E mais que isso, não aponto o dinheiro como motivação para o terrorismo mas sim como meio. E o prossigo dizendo que o verdadeiro meio que possibilita realmente a existência do terrorismo é a mão-de-obra, os rapazes e raparigas, homens e mulheres que são recrutados, manipulados e enganados para se tornarem terroristas.

"gostaria de saber quais são, na tua opinião, as motivações e razões para a existência de terrorismo a nível subjectivo, dao que, apenas referes:"

O objectivo do texto não era falar das motivações e razões para a existência de terrorismo mas sim apontar o erro táctico que representa combater o terrorismo apenas numa lógica de reacção e prevenção das acções terroristas e das organizações que as levam a cabo. O caminho mais eficaz passa pelo entendimento e combate das causas e motivações do terrorismo.

Mas se quiseres falar das verdadeiras motivações para o terrorismo podes escrever um texto sobre o assunto que eu comento. Com profundidade, claro.

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Marta, de facto o IRA renunciou à luta armada alguns dias depois de eu escrever este texto.

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