terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Adeus cuecas

Não, não decidi deixar de utilizar roupa interior. Mas hoje passei um momento marcante na minha vida quando decidi reformar umas cuecas que me acompanhavam há uns bons 15 anos. Nada se alterou nelas em relação à última vez que as vesti, mas a verdade é que quando toquei no rabo e encontrei aquela abertura horizontal de uns bons 10 cm, não pude suportar a imagem do ridículo. Actualmente aqueles slips mais parecem um acessório sexual para gays e achei que estariam um pouco desajustados da minha imagem de pai de família. É verdade que passámos bons momentos juntos, foram uma fiéis companheiras desde os meus dezassete anos, mas chegado o momento, há que ter a coragem de tomar as decisões difíceis. E esta decisão é tanto mais difícil quanto o seu posto de reforma será bem mais duro que o seu já árduo trabalho de uma vida inteira. As cuecas vão passar a pano de limpezas. Até agora estas cuecas têm tido uma boa vida. Repousam na cómoda, na segunda gaveta a contar de cima, durante uns dias, depois cumpriam a sua nobre tarefa de proteger a minha masculinidade da abrasão das calças, captar uma ou outra gota de urina e aparar uns quantos traques diários. A fase seguinte era uma estadia no cesto da roupa suja, o que, vistas bem as coisas, até deve ser bem confortável. Após uns dias no cesto, um momento lúdico na máquina de lavar. Para mim, a máquina de lavar deve ser o equivalente para a roupa de uma ida à Feira Popular ou a um Aquaparque. Se eu fosse peça de roupa seria certamente o meu momento preferido, o equivalente ao um fds em cheio. Quase a terminar o ciclo passava um ou dois dias na corda da roupa. E finalmente, antes de voltar à confortável gaveta, uma boa massagem com o quentinho ferro de engomar.

Mas agora, na sua nova função as coisas serão bem diferentes. Para já foram guardadas no armário por baixo do lava-loiças. Muito menos aconchegante que a boa gaveta. Depois há uma incerteza muito grande em relação à tarefa que desempenharão. Uma vezes serão utilizadas como pano do pó, outras para limpar sanitas. Nunca mais sentirão a excitação da máquina de lavar nem a massagem reconfortante do ferro de engomar.

Triste fado ser-se cueca.

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