terça-feira, 16 de maio de 2006

"O Código de Da Vinci" une as religiões

De tanta coisa que já se disse acerca do livro e agora sobre o livro, esta é provavelmente a mais bombástica. Na Índia, a comunidade islâmica juntou-se à católica contra o filme baseado no livro de Dan Brown. Segundo os representantes muçulmanos, o Corão reconhece Jesus como um dos profetas, pelo que o conteúdo do livro é uma blasfémia. E curiosamente, um dos representantes muçulmanos afirma que estão dispostos a fazer protestos violentos se for permitida a exibição do filme. Já um activista católico entrou em greve da fome que está disposto a levar até à sua morte, enquanto o filme for exibido na Índia. Apesar de tudo prefiro a postura do católico.

Felizmente que nem toda a gente é fanática. O organismo indiano que define a classificação dos filmes permite a sua exibição desde que os produtores do filme concordassem em introduzir uma nota no início sublinhado o seu carácter ficcional. No entanto o filme será classificado como para adultos... porque contém uma cena de auto-flagelação e outra de nudez parcial. Gostava de saber se utilizam os mesmos critérios para os restantes filmes. Convém realçar que deste organismo fazem parte elementos católicos, entre os quais um reverendo, que não se opuseram à sua exibição. O que dá uma certa nota de razoabilidade à coisa.

BBC NEWS | South Asia | Muslims join Da Vinci criticism: "Muslims join Da Vinci criticism
Audrey Tautou and Tom Hanks in The Da Vinci Code
Audrey Tautou and Tom Hanks star in The Da Vinci Code film
Roman Catholics in the Indian city of Mumbai (Bombay) have received Muslim support in protests against the release of the movie, The Da Vinci Code."

6 comentários:

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Exemplo de classificação:
Classificações da Motion Picture Association of America

Exemplo de um caso em que para mim a classificação faz sentido:
The Hills Have Eyes

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

(Eu tinha escrito um comentário antes, mas por alguma razão não apareceu)

"Desabafo: Mal vai o mundo/sociedade quando um produto cultural serve de fundamento para radicalismos sem sentido!"

Mas o mundo vai mesmo mal. A boa notícia é que apesar de tudo vai melhor do que alguma vez foi... isto é, antes de o Homem deixar de ser caçador-recolector.

Quanto à necessidade de organismos de classificação de filmes devo dizer que não estou de acordo contigo. Para mim faz sentido que os filmes sejam classificados porque reconheço que nem todos os filmes não são para todas as audiências. Por exemplo, acho que seria prejudicial que fosse permitido a miúdos com menos de, vá lá, 16 anos poderem ir ao cinema ver filmes pornográficos. E provavelmente seria também pouco seguro. Também me parece adequado identificar determinadas características dos filmes e classificá-los de acordo com essas características. Por exemplo o grau de violência, linguagem obscena, nudez e sexo. Acho que se uma pessoa for pudica tem o direito a não ser surpreendida por um filme em que toda a gente ande nua. E acho que filmes particularmente violentos não devem ser vistos por crianças de determinadas idades, e que em determinados intervalos de idades devem poder ver os filmes mas apenas acompanhados por um adulto que lhes possa depois contextualizar as coisas. Agora o que eu posso é não estar de acordo com os critérios usados para determinar se um filme é ou não para maiores de 18. É o caso da classificação do Código de Da Vinci na Índia.

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Se se tratasse de censura estava de acordo contigo, mas felizmente não é disso que se trata. Em Portugal pelo menos e que eu saiba, os filmes são exibidos nas suas versões integrais, não há censura. Nem em filmes, nem em livros nem em qualquer obra criativa. Que eu saiba, mas deixo em aberto a possibilidade de estar enganado.

E a classificação de um filme não é feita de uma forma absoluta. Eles tipicamente descrevem cada um dos ítens. Essa classificação é usada nas salas de cinema para restringir o acesso em função da idade, ou devia, e pode ser utilizada por ti para decidir quais os filmes que pretendes ver em casa ou mostrar aos teus filhos. É claro que és livre de ignorar por completo a classificação e deixar ao critério do teu filho de 6 anos quais os filmes que ele quer ver, se bem que na minha opinião isso fosse irresponsável.

Mas o que eu não percebo é se tu achas que um filme não pode ter efeitos prejudiciais numa criança, independentemente do grau de violência ou da explicitude do sexo. Achas que faz sentido pôr um miúdo de 12 anos a ver um filme porno ou um miúdo de 6 anos a ver um filme com imagens de violência explícita com tripas à mostra e membros decepados, etc? Para ti sexo e violência são coisas perfeitamente inócuas para a cabeça de uma criança?

Uma coisa curiosa que penso perceber dos teus comentários é que tu respondes como se estes níveis de classificação fossem um atentado à tua liberdade, e isso não é verdade uma vez que tu já és maior de idade (pelo menos no BI ;-).

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

"Penso ser mais consentâneo com a liberdade e acesso à cultura a postura de avisos, tipo: "Este filme contém cenas de sexo explicito / violentas / linguagem obscena, etc...
E depois cada um, aí sim, fosse livre de poder escolher e assumir os riscos."

E isso faz parte da classificação. Pelo menos nos sistemas mais sofisticados.

"P.S. - Pelos vistos, gostas que sejam terceiros (sabe-se lá quem) a impôr o que os teus filhos podem ver ou não! Contudo, e conhecendo-te há alguns anitos, sei que tens cérebro, capacidades decisória e de ponderação, para aferir os teus próprios critérios... ou precisas que te os imponham?"

Primeiro deixa-me agradecer-te pelo elogio. Quanto à provocação quer-me parecer que te estarás a esquecer de algo. É que nem todas as crianças vão ao cinema com os pais. Portanto se seguíssemos o teu modelo ficararíamos perante uma questão paradoxal. Seriam os menores de 18 anos a decidir se deviam ou não ver os filmes que hoje se consideram que devem ser apenas para maiores de 18. Como é que te propões a resolver esta questão sem a classificação dos filmes? Para além disso se eu fizer questão em mostrar ao meu filho de 12 anos um filme com gajos a explodir e pedaços de vísceras a colarem-se à câmara, só tenho de alugar o filme e vê-lo em casa. Portanto, o modelo actual parece ser uma boa solução de compromisso e ainda não me conseguiste provar o contrário.

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Bom, tudo bem, concordamos em discordar.

Mas eliminando o meu ponto de vista da questão, a tua proposta continua a ser paradoxal. Por um lado queres eliminar a classificação em função da idade, mas depois, e uma vez que reconheces que os filmes não são todos para todas as audiências, propões que os pais vão mais ao cinema com os seus filhos menores de 18 anos. É claro que o "ir mais" não pode ser solução, porque o problema manter-se-ia nas ocasiões em que os pais não fossem. Portanto a única solução seria os pais acompanharem sempre os seus filhos ao cinema. As consequências seriam catastróficas:

- os filhos deixavam de ter direito a ir ao cinema sozinhos ou com amigos ou com a namorada
- os filhos cujos pais não gostassem de cinema deixavam de poder ir ao cinema
- os pais que quisessem permitir aos seus filhos ver todos os filmes que lhes apetecem seriam obrigados a ir sempre com eles e gramar com as piores seagaladas que o cartaz tivesse para oferecer.

Não seria isto intolerável e um ataque às liberdades individuais?

Personalidade Bloguinho Portuga disse...

Não sei se é assim, não percebi onde é que querias chegar.

Não percebo se estás a dizer que actualmente os miúdos fazem essas coisas sempre com autorização dos pais ou se se deve partir desse princípio. Por exemplo, no caso das putas que referiste, é bem provável que o pai lhe tenha dado dinheiro para comprar umas calças ou o raio que o parta e que ele tenha preferido aplicá-lo melhor. E isso só é possível porque as putas não seguem o tal sistema de classificação de idades. Ou seja, se as putas seguissem o sistema de classificação de idades que existe actualmente para o cinema, recusariam o serviço ao rapaz ou aceitariam apenas um serviço parcial, por exemplo, bater-lhe uma. Mas como elas se estão nas tintas para a idade do rapaz ou se ele tem pai, até porque os euros não têm idade, o mais provável é que aceitem fazer-lhe o serviço completo e ainda lhe tentem convencer a tornar-se num cliente regular. E podemos nós perguntar-nos: se as putas acham que não faz mal atender um rapaz de 15 anos sem consultar o encarregado de educação, porque hão-de os cinemas ter essa preocupação? Bom, acorrem-me pelo menos de duas razões:
- porque é sabido que uma vez por outra os menores de idade fazem coisas à revelia dos pais
- porque aceitar o princípio de que se os menores de idade fazem coisas para as quais é obrigatório autorização parental isso significa que os respectivos encarregados de educação lha deram, é no mínimo desligado da realidade

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