sexta-feira, 25 de março de 2016

O violador em série

Era mais forte do que ele. Elas chamavam por ele como um íman atrai um pedaço de ferro. Era a vertigem do perigo e a sua incapacidade para se defenderem que o impeliam para a frente. Aquela inocência, aquela beleza que prometia o paraíso, o risco de poder ser apanhado... tudo contribuía para estimular de tal maneira os seus instintos mais primitivos que tinha dificuldade em controlar-se. Quando se encontrava junto a uma delas sentia tonturas de tal maneira fortes que via a sala a girar à sua volta e temia perder o equilíbrio. Mas disfarçava, tinha de ser forte. Os seus colegas podiam aparecer a qualquer momento e se fosse apanhado seria o fim. Mas ninguém conhecia o seu segredo. Já tinha violado dezenas, centenas e nunca ninguém sequer desconfiara dele. Tinha chegado a altura. Era como se na divisão só estivessem ele e ela e nada mais houvesse em seu redor. Aproximou-se lentamente como se de um leopardo se tratasse. O segredo é atacar quando menos se espera. Apanhou-a por trás e quase chegou ao êxtase quando o seu bafo quente e húmido a fez perder a compostura. Sem qualquer protecção ficou completamente exposta. Nada o podia impedir de concretizar os seus desejos mais obscuros. Ela era sua para fazer o que bem entendesse e ele não se pouparia a nenhum capricho...
- Alto! - apanhado em pleno acto. Virou-se de repente tentando disfarçar o indisfarçável. À sua frente o chefe da repartição dos correios estava acompanhado por uma colega sua que tinha levado como testemunha.
- O que é que tem atrás das costas? - amarrotada, parcialmente escondida na sua mão esquerda estava a carta de um emigrante no Panamá para a sua mãe que vivia numa aldeia da Guarda. Pensou que se deixasse cair a carta poderia argumentar nada saber sobre o assunto, mas a chaleira que tinha utilizado para descolar o envelope não podia ser explicada. Não havia argumentos nem histórias que o safassem. Estava acabado. Limitou-se a olhar para o chão com o rosto coberto de vergonha e a pousar o carta em cima da mesa de trabalho.
- Dª. Maria, é testemunha desta devassidão - os olhos do responsável destilavam ódio, traído que se sentia por um empregado em quem depositara a sua mais completa confiança durante quinze anos. - Manel, está suspenso até nova ordem. Vou-lhe pôr um processo disciplinar e garanto-lhe que tudo farei para que nunca mais possa trabalhar numa repartição dos correios até ao fim dos seus dias. Nunca lhe perdoarei a sua traição! Enquando Manel se dirigia ao seu posto de trabalho para recolher as suas coisas os seus colegas voltavam-lhe as costas. E foi assim que após quinze anos a violar correspondência, Manuel de Vila Verde Romão, filho da terra e outrora respeitado habitante da sua aldeia, atravessou pela última vez a porta de uma repartição dos correios

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