sábado, 14 de março de 2015

It's the end of the world as we know it

Estava a ver um episódio da segunda temporada da séria Revolution e caiu a moeda. As séries apocalípticas estão na moda:
- Perdidos - Um avião despenha-se numa ilha e os sobreviventes depressa chegam à conclusão de que a ilha não é só uma ilha. Uma mescla de ciência e mística condiciona as opções dos sobreviventes.
- Revolution - a criação acidental de uma inteligência de entidades de tamanho nanoscópico resulta no desligamento da electricidade a nível mundial. A electricidade deixa de existir e a consequência é o desmembramento da sociedade com o retorno a um modelo feudal/nova fronteira. Na prática os EUA regressam ao século XIX com uns toques de século XX mas limitados às roupas e ao armamento mecânico.
- Walking Dead - Um vírus converte cadáveres em zombies o que resulta no fim da civilização fazendo com que os poucos sobreviventes retrocedam à idade média: estabelecer uma comunidade é quase impossível e a vida limita-se a pouco mais que a capacidade de sobreviver, obrigando as poucos vivos a uma vida de caçadores-recolectores em constante migração. Os vivos têm de sobreviver não só aos zombies como aos restantes sobreviventes que abandonam as mais básicas regras de vida em sociedade para retrocederem até à pré-história: a tribo, a caça, um local seguro para pernoitar, sobrevivência.
- The Strain - um nosferatu, um drácula da vida resolveu fazer agora a sua ofensiva definitiva. O seu caixão é enviado para Manhatan num avião e depois deste aterrar todos os passageiros menos quatro aparecem mortos. Os mortos ressuscitam, mas o seu destino é o mesmo dos sobreviventes: transformarem-se em vampiros para conquistarem o mundo em nome do seu mestre. Começando logicamente por Manhatan, nos EUA, como todas as desgraças de jeito. É impressionante como não há porcaria de invasão extraterrestre ou praga zombie que não comece nos EUA.
- The Dome - uma misteriosa redoma invisível mas muito palpável isola uma vila americana do resto do mundo. É impossível entrar ou sair, apenas uma pequena quantidade de ar circula, mas mesmo esse é mínimo. Sem limites impostos pelo exterior o presidente da câmara põe as manguinhas de fora e toda e qualquer decência desaparece, precedida pelos abusos da autoridade e o ataque aos mais básicos direitos humanos. As facções definem-se e o confronto é inevitável.

Todas estas séries são uma variação do mesmo tema: o Apocalipse. Por que é que estas séries têm tanto sucesso? Eu acho que é porque a vida se complicou terrivelmente:

  • As crianças já não têm direito de o ser, a pressão para terem boas notas começa muito cedo e os pais sentem-se obrigados a estudar com os seus filhos desde muito cedo. Por exemplo a professora do meu filho de seis anos que anda no primeiro ano disse hoje na turma que eles podiam chumbar.
  • Já não existem empregos para a vida. Hoje em dia ser funcionário público já não é garantida nenhuma e muito menos trabalhar para uma empresa privada.
  • Aparecem novas profissões todos os dias e as profissões antigas estão a desaparecer.
  • A expectativa de que os nossos filhos venham a ter uma vida melhor que a nossa é cada vem menor. Muito pelo contrário parece quase garantido que terão um movimento descendente na escada social.
  • A especialização tanto pode ser uma bóia de salvação como um beco sem saída. Não é possível prever.
  • Os bancos vão à falência e entregar dinheiro ao balcão de um é o mesmo que jogar na roleta russa: não existe a garantia que o dinheiro não é colocado em aplicações financeiras contra as nossas instruções e não parece ser possível condenar que abusa desta maneira da confiança das pessoas.
  • A vida na cidade não permite que os mais novos cuidem dos mais velhos mas a confiança de que todos terão direito a Segurança Social é cada vez menor.
E mais exemplos haveriam, mas onde quero chegar é que as pessoas anseiam por simplicidade. E existem poucas coisas mais simples que a simplicidade da sobrevivência. Dia-a-dia procurar alimentos, abrigo, fugir do perigo, evitar as outras tribos, sobreviver...

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