terça-feira, 18 de abril de 2006

O impasse iraniano




A situação actual das relações do Irão com o mundo Ocidental é extremamente interessante. O Irão tem vindo a trabalhar de forma ostensiva num programa nuclear. No entanto esta ostensividade só tomou forma após a descoberta em 2002 da existência do programa secreto de enriquecimento de urânio. Embora o programa já decorresse há 18 anos.

Segundo o Irão o seu programa nuclear tem objectivos pacíficos e destina-se a aliviar a dependência do país em relação ao petróleo. Esta dependência relativamente ao petróleo é uma situação peculiar no caso do Irão, particularmente se tivermos em conta que este país é um exportador de petróleo. O problema do Irão relativamente ao petróleo está relacionado com as sanções a que está sujeito por parte dos EUA, que impedem empresas americanas de negociar com o Irão e prevêm sanções contra empresas de outros países que o queiram fazer. Como consequência desta situação e apesar de ser responsável por 5% das exportações mundiais de crude, o Irão não tem refinarias suficientes para dar resposta às suas necessidades internas de combustível. A adicionar a esta dificuldade, os fortes subsídios sobre o combustível levam a uma distorção do consumo. O baixo preço do combustível leva não só a um consumo exagerado como ao contrabando do combustível subsidiado para venda nos países vizinhos. O resultado final deste cocktail é que o Irão tem de importar cerca de 4,5 mil milhões de dólares por ano de combustível, contra os 45 mil milhões de receitas anuais resultantes da exportação de petróleo que financiam 50% do orçamento anual iraniano.

Sendo um signatário do Tratado de Não-Proliferação, e tendo direito a utilizar a energia nuclear para fins pacíficos, é um pouco preocupante que tenha montado um programa secreto de enriquecimento de urânio, em vez de o submeter logo desde o início ao escrutínio das Nações Unidas.

Actualmente as Nações Unidas têm acesso às instalações nucleares, mas ainda não estão convencidas de que tenham tido acesso a toda a informação de que necessitam. Por essa razão exigem ao Irão que interrompa o seu programa nuclear até que as NU se sintam confortáveis relativamente às garantias da orientação do programa nuclear iraniano.

O problema é obviamente um problema de confiança e de intenções. Ou seja, um reactivar do clima da Guerra Fria. A questão que se põe é que ninguém conhece as intenções do Irão. Será que o seu programa se destina apenas a fins civis? Ou será que tem como objectivo a produção de armas nucleares? Será que o próprio Irão tem esse objectivo bem definido ou quererá apenas garantir a opção de se vir a armar com armas nucleares no futuro? Todo este desconhecimento leva a um conjunto de equilíbrios instáveis. O Irão até pode ter o seu programa orientado para utilizações civis, mas a pressão internacional e as ameaças veladas de ofensivas militares por parte dos EUA não poderão alterar o sentido desse programa nuclear? A própria invasão do Iraque e o conceito de guerra preventiva não poderão levar o Irão a armar-se nuclearmente como forma de desencorajar uma ofensiva norte-americana? Por outro lado, será que o Ocidente pode confiar nas declarações de intenções iranianas?

Mais sobre o assunto na BBC News:

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