This blog's purpose is to help me consolidate my thoughts about science, politics and social issues, whatever. Past entries all in Portuguese, current ones either in English or Portuguese. Depends on context.
quinta-feira, 4 de novembro de 2004
Bush é bom para Bin Laden?
Por que razão decidiu Bin Laden dirigir-se aos norte-americanos em vésperas de presidenciais? Passo a expôr a minha opinião (que de qualquer maneira só eu leio) sobre este assunto.
Quatro dias antes das eleições Presidenciais nos EUA, Bin Laden envia uma mensagem através da Al-Jazeera dirigindo-se directamente aos cidadãos Norte-Americanos. Nesta mensagem Bin Laden critica Bush pela forma como enfrentou o ataque de 11 de Setembro, afirmando que a inacção da Administração Bush ofereceu aos terroristas que concretizaram o atentado, não 20 minutos como inicialmente tinham previsto, mas sim 40 minutos. Bin Laden diz também que a segurança dos americanos depende apenas deles e que nenhum presidente poderá protegê-los. Resumindo, se a Al Qaeda não for atacada não atacará ninguém.
Uma mensagem deste género apenas servirá para aumentar o receio dos norte-americanos em relação à ameaça terrorista. Logo, era garantido que beneficiaria o candidato com pendor mais securitário. A conclusão é então que Bin Laden enviou uma declaração aos americanos, antes das eleições e referindo-se a estas, portanto com o objectivo de as influenciar. Declaração essa que empurraria mais eleitores para os braços de Bush prejudicando Kerry.
Então quais teriam sido as reais motivações de Bin Laden? Para chegarmos a alguma conclusão temos de responder a uma outra pergunta. Do que vive ele? O grande objectivo da vida de Bin Laden será algo como lutar por uma distorcida glória do Islão. A arma que escolheu para esse combate foi o Terror. Para além de gigantescos recursos financeiros, Bin Laden, bem como todas as outras forças que vivem do Terror, necessitam de mão de obra. Não pretendo saber, nem vou discutir, a razão pela qual muitos jovens se deixam arrastar para a teia do terrorismo, se dispõem a sofrer lavagens ao cérebro que lhes permitem conceber uma cratera pejada de corpos de idosos e crianças num terminal de autocarros como algo que glorifica o Islão. Mas a verdade é que a tarefa do recrutamento se torna mais simples quando existem reais razões de queixa. O eterno problema da Palestina é um buraco negro que atrai o ódio do mundo islâmico. A protecção declarada dos EUA às acções de Israel apenas alimenta esse o ódio. O ataque ao Iraque, que era uma ditadura assassina, mas não tinha relações extraordinárias com o terrorismo, serviu, entre outras coisas para virar ainda mais a opinião pública muçulmana contra os EUA e tornar o Iraque num íman para terroristas islâmicos. Bin Laden chegou a afirmar que tinha tido a ideia de atingir as torres gémeas quando viu em 1982 as imagens de torres destruídas no Líbano, após os ataques israelitas apoiados indirectamente pelos EUA. Todos estes ataques a países muçulmanos são utilizados pelos líderes radicais para motivar jovens a tornarem-se bombistas suicídas.
Para prosseguir com a sua Internacional do Terror, Bin Laden precisa por um lado dos referidos recursos, quer de mão de obra, quer financeiros e por outro precisa de conseguir manter-se um passo à frente das forças que o tentam capturar ou abater. Este último objectivo precisa por sua vez de recursos financeiros e da simpatia de uma parte do mundo islâmico. É esta simpatia que tornará possível a colaboração activa e passiva de que necessita para contornar serviços de informações e de segurança e arranjar lugares seguros para se refugiar.
Bin Laden sabe que, seja quem for o presidente dos EUA, a sua captura ou eliminação será sempre uma das principais prioridades da Administração americana. O próprio Bill Clinton confirmou à imprensa ter assinado, enquanto presidente, a ordem de eliminação de Bin Laden. Analisando os riscos e as necessidades, se pudesse escolher um presidente para os EUA, aquele que mais lhe conviria seria o que lhe permitisse maximizar os recursos de que necessita para prosseguir com a sua "obra".
Entre os dois candidatos, Bush, agora confirmado na Casa Branca, e Kerry candidato derrotado, qual dos dois garante a Bin Laden os exércitos de que necessita? Bush que investiu numa guerra contra o Iraque com base em alegações falsas e desviou recursos que tinha no Afeganistão a tentar capturar Bin Laden ou Kerry que apontou este erro durante a campanha? Bush que já demonstrou ter uma política externa prepotente ou Kerry que anunciou que poria em prática uma política externa mais de acordo com os aliados tradicionais? Se fosse Bin Laden, qual dos dois preferiria?
É por isso que quando Putin afirma que os Norte-Americanos tinham provado ser um povo corajoso que não cedia ao terrorismo, está na realidade o mais equivocado possível. Os Norte-Americanos votaram maioritariamente em Bush porque tiveram medo do terrorismo e acharam que Bush os protegeria melhor (e por muitas outras razões, certamente). Mas ao fazê-lo fizeram também aquilo que Bin Laden queria. Ou seja, fizeram duas vezes o jogo do terrorismo.
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