domingo, 18 de outubro de 2015

O Eleitorado - Uma visão imbecil do sistema democrático

Às 3:03 da manhã do dia 4 de Outubro, todos os portugueses maiores de idade falam em uníssono, como que controlados por uma força superior que os usasse para projectar os seus pensamentosSão o mítico e muito debatido Eleitorado. Apesar de constituído por milhões de indivíduos, o eleitorado comporta-se como uma amálgama controlada por telepatia como se de marionetas se tratassem. Existe um propósito superior no voto do eleitorado que deve ser interpretado de forma correcta para que o Governo tenha a forma pretendida por… pela referida força superiorChamemos-lhe a Mística Força Eleitoral (MFE)Tal como controla o eleitorado, a MFE controla também os não eleitores. Enquanto decorre o processo de alinhamento do eleitorado, os não eleitores encontram-se completamente alheios ao que se passa, estando também eles sujeitos a um estado de transe que os impede de se aperceberem do que se passa. Enquanto os eleitores falam, os não-eleitores não falam nem escutam. Eleitores e não eleitores ficam todos como que repentinamente congelados. Quem se encontrava deitado, deitado ficou. Quem se encontrava em movimento, ficou repentinamente estático, apoiado ou em pleno ar, porque quando o eleitorado se alinha, até as Leis da Física são suspensas. Heis o que diz o Eleitorado num coro de tal maneira sincronizado que se as Leis da Física não tivessem sido suspensas seria possível caminhar pelas ruas de Portugal ouvindo o discurso de forma contínua sem que o volume do som variasse sequer.


“Somos o Eleitorado. Como acontece antes de todas as eleições estamos reunidos para acordar o resultado das eleições. Nas Legislativas de 2015 vamos dar uma maioria relativa à coligação PSD/CDS mas daremos uma maioria absoluta aos partidos de esquerda.”


Seria de esperar que, com poderes absolutos ainda que temporários, (a MFE apenas se manifesta às 3:03 dos dias de eleições), a MFE tomasse posições eleitorais completa e absolutamente isentas de ambiguidade. Afinal, na sua temporária omnisciência, a MFE conhece todos os mecanismos que levam ao desenho da composição do Governo da República Portuguesa. Mas os desígnios da MFE são insondáveis. Apenas os analistas políticos têm uma remota possibilidade de entrever o objectivo final da MFE.


Ora vamos lá a ver! O “Eleitorado” não quer coisa nenhuma porque o Eleitorado enquanto organismo singular com uma vontade única não existe. O Manel há-de querer um Governo PaF e que o PS amoche, o Jaquim há-de querer que o PS governe com a bênção e pouca conversa do BE e da CDU, a Ariana gostava imenso que o PaN governasse apenas com o apoio de todos os animaizinhos e plantinhas de Portugal e outros existirão que, tendo votado em branco, num partido ou apenas desenhado um Zé Bastos no boletim de voto, querem mesmo é que não os chateiem. O sistema eleitoral português não está feito para interpretar a vontade de nenhuma entidade mítica. Sem entrar em grandes detalhes que também não conheço a fundo, é composto por seis fases distintas:


1. Os eleitores votam, elegendo os deputados dos diferentes partidos;
2. Os líderes partidários conversam e, como mais ou menos apoio do Presidente da República (PR), chegam a um acordo;
3. O PR propõe uma constituição de Governo à Assembleia da República;
4. Os deputados votam a proposta e esta ou passa ou não passa;
5. Repetir os passos 2 a 4 até se chegar a uma proposta  que seja aceite por uma maioria simples;
6. Constituir o Governo.

As regras são estas. Andar para aí a dizer que é preciso saber interpretar a vontade dos eleitores é uma completa idiotice. O sistema não funciona assim e existem tantas interpretações como opiniões. O que é certo é que existem regras. Dizem que estão na Constituição ou o camandro. Desde que estas sejam cumpridas, qualquer resultado final é válido. O resto são balelas! E uma coisa é certa, no fim haverá sempre alguém insatisfeito e poderá até acontecer que ninguém fique satisfeito. Mas é o sistema e só temos que o seguir. Quem não gostar deste, que proponha outro, reúna 2/3 dos votos dos deputados e altere a Constituição.

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