quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Suspender o Magalhães para avaliar os resultados?

Ora aí está algo de que eu não estava à espera vindo deste Ministro da Educação. Tenho uma excelente opinião sobre Nuno Crato, em especial pelo seu trabalho de divulgação científica a que tenho assistido ao longo do tempo. Nunca fui um espectador assíduo do programa Plano Inclinado, mas dos poucos que vi em que o Nuno Crato participou, tenho a ideia de que sempre apresentou as suas ideias de uma forma equilibrada e ponderada. Estou de acordo que o caminho de facilitismo seguido nos últimos anos vai ter sérias consequências a curto e médio prazo e que o uso de máquinas de calcular até pode ser parte desse problema. Dá-me a volta ao estômago (calculo que a ele também) o trabalho que tem sido feito ao nível da avaliação dos estudantes que basicamente consiste um proibir os professores de os chumbar com o objectivo de fazer os meninos passar o mais depressa pelo ensino obrigatório para finalmente podermos melhorar as estatísticas e mostrar à União Europeia. Estou de acordo que as estatísticas podem parecer bonitas no papel mas que a consequência disso serão gerações inteiras (ou quase) de analfabetos funcionais. Compreendo tudo isso e espero que os próximos governos não insistam no erro, a começar por este XIX Governo Constitucional de Portugal. Mas o que não consigo compreender é que se suspenda o programa de distribuição de computadores Magalhães, uma das boas apostas do Governo Sócrates, com o argumento de que pretendem avaliar os resultados. Gostava que me explicassem que raio de resultados estão à espera que um programa que consiste em entregar computadores portáteis a crianças de 5 anos pode apresentar ao fim de apenas 2 anos!!! Vão ver se os meninos já sabem usar criar pivot tables no Excel? Terão a expectativa que se tenham todos tornado génios da informática de um ano para o outro? Ou será que estão à espera que as crianças já tenham fundado muitas dotComs? Este é um programa, tal como as más opções dos Ministérios da Educação da última década (décadas?), precisa de pelo menos 10 anos para mostrar resultados. Um programa desta natureza iria contribuir em muito para reduzir a info-exclusão. O que se pretende é que esta geração tenha um tal à-vontade com os computadores que estes venham a ser uma ferramenta sem segredos. Tanto quanto eu sei, salvo alguma calamidade que nos leve a todos de volta para a Idade da Pedra, a informática continuará a ser um factor incontornável no futuro. A distribuição dos Magalhães é tão importante para o futuro de Portugal como aumentar o nível de exigência do ensino. Espero que Nuno Crato o compreenda a tempo e que não confunda os computadores com as máquinas de calcular.

sábado, 3 de setembro de 2011

Ad nauseam

Há pelo menos dois romances que já foram explorados ad nauseam e que demonstram uma séria incapacidade da indústria cinematográfica para se renovar. Sim, como provavelmente já devem ter adivinhado, estou a falar do Robin dos Bosques e dos Três Mosqueteiros. O Robin dos Bosques é uma personagem lendária que tem sido explorada em diversas séries e filmes, mas em relação à qual existem referências desde 1420. Foi passada ao formato audiovisual pela primeira vez num filme mudo de 1908, realizado por Percy Stow e com o título de Robin Hood and His Merry Men. Parece o título de um filme de porno gay, mas na altura a produção de filmes devia ser tão cara que provavelmente não existia essa especialidade de pornografia cinematográfica. A Wikipedia tem o registo de nada menos que 47 filmes e 12 séries de televisão, produzidos entre os anos de 1908 e 2011, em que o Robin dos Bosques é a figura central. Os filmes abrangem pelo menos 3 tipos: aventuras, comédia e pornográfico.

O romance Os Três Mosqueteiros foi escrito por Alexandre Dumas "apenas" em 1844. No entanto a dimensão do abuso audiovisual desta obra é só um pouco menor que a da personagem anterior: de 1912 a 2011 existem nada mais, nada menos que 34 adaptações sob a forma de filmes, séries e filmes animados.

Isto para não falar das adaptações ao teatro, à banda desenhada e ainda ao ballet.

Existem ainda outras obras que são muito exploradas, nomeadamente as das personagens Sherlock Holmes, as obras de Jules Verne, entre outras. Mas quer-me parecer que as duas que referi são do mais abusado que se pode encontrar.

Se calhar já chega, não?

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