Li o artigo Trump Voters Got What They Wanted do The Atlantic e na altura achei que apresentava a única explicação plausível para a reeleição de Trump: os americanos estavam a comprar o que Trump estava a vender. Mas isso foi antes de ver a contagem dos votos. Ainda não estão contados todos os votos, mas no melhor cenário possível para Trump, vai ter o mesmo número de votos que em 2020. Em 2020, Trump teve 74.223.744. No momento em que escrevo este texto, falta fechar a contagem do Arizona e do Nevada e Trump tem 72.837.242, sendo que o Nevada tem 91% dos votos apurados e o Arizona tem 68%. Na prática foram os mesmos indefectíveis que terão votado em Trump pelas mesmas razões em que 2020. O problema é que Kamala possivelmente não vai chegar aos 70 milhões de votos. Neste momento, Kamala tem menos 13 milhões de votos que Biden. Ou seja, a eleição de Trump deve-se, sobretudo e antes de mais, à debandada do eleitorado de Biden.
Tinha construído todo um raciocínio para sustentar a minha expectativa de que Trump não poderia ser reeleito, do ponto de vista de que não seria possível haver transferência de votos de Biden para Trump. Mas afinal o que tem de ser percebido são as razões da desmobilização do eleitorado democrata. Há 13 milhões de pessoas que em 2020 acharam que tinham de ir votar porque era inaceitável ter Trump novamente como presidente, mas que em 2024 acharam que ter Kamala como presidente seria pior que ter Trump. Ou pelo menos, igualmente mau. Ou ainda, que a diferença entre um e outro não seria assim tanta que justificasse deslocarem-se às urnas.