domingo, 3 de abril de 2016

Carta aberta a Henrique Sá Pessoa

Caro Henrique Sá Pessoa,

Gostava de começar esta carta aberta dizendo que sou fã do seu trabalho na televisão e do seu estilo educativo e pouco espalhafatoso. Não tenho dúvida de que será um dos melhores chefs de Portugal, mas espero que não se considere acima de uma crítica e que reconheça esta como construtiva.

Hoje fui ao Mercado da Ribeira, um espaço excelente, animado e com uma variada e vibrante oferta culinária, onde o meu amigo tem um dos seus espaços de restauração. Como sou grande fã de leitão, que é um animal fofinho antes de cozinhado e extremamente saboroso depois de deixado a repousar num bom e bem quentinho forno a lenha, decidi experimentar a sua Bifana de Leitão Crocante. Tive de esperar 25 minutos pela iguaria, mas não posso assacar culpas à casa dado que o número de utilizadores do espaço comercial em questão era, à hora do pedido, manifestamente grande. O meu primeiro contacto com a sua interpretação de uma bifana de leitão foi bom. 



Como se pode ver pela imagem, não se trata de uma bifana no sentido clássico, ou seja, um bife dentro de uma carcaça, mas sim de cubinhos de leitão em pão de brioche (se calhar é outro tipo de pão, confesso a minha ignorância), pickles (?) e molho agridoce.

Como é expectável, uma vez que os cubinhos de leitão não formam uma unidade coesa, alguns deles caem facilmente para o prato. E foram exactamente algumas destas unidades paralepipédicas que eu primeiro experimentei. Não há como negar, eram extremamente saborosas. Na minha opinião, deve ser difícil falhar com leitão, mas mais uma vez, vou admitir a hipótese de estar errado uma vez que nunca cozinhei nenhum. Mas pronto, pontos a favor. Ao leitão propriamente dito não tenho nada a apontar. Aliás, seria ser mal agradecido, uma vez que o pobre leitão abdicou de uma vida longa e cheia de diversão para que eu e outras pessoas o pudéssemos saborear. O problema foi o que veio a seguir. Não vou dizer que a receita no seu conjunto saiba mal, mas acho que é claramente um caso em que a soma das partes vale menos do que cada uma delas individualmente. A sensação com que fiquei ao saborear todos os ingredientes juntos foi que estava a comer comida chinesa. E que não me interpretem mal, eu sou grande fã de comida chinesa. Mas acho que o pobre leitão merecia melhor sorte do que ver o seu subtil e rico sabor desaparecer debaixo de uma catefrada de outros sabores. Aquela bifana não sabe a leitão! Tem um ligeiro sabor a porco que mal se consegue discernir no meio dos pickles (acho que eram pickles) e do molho agridoce que dominavam completamente o prato. Imagino que a receita se enquadre no conceito de comida de fusão, mas na minha humilde análise, não passa de uma confusão. Para os bifes e outros estrangeiros que não conhecem o Leitão à Bairrada, até pode servir, mas aqui para o je, que já comeu muitas e boas sandes de leitão, menos é mais.

Caro Henrique... Henrique? Está a ouvir-me...? Olha que isto, um gajo a tentar ser construtivo...

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