segunda-feira, 24 de abril de 2006

O pecado da net

A Clitie escreveu um comentário no meu texto anterior que comecei a responder mas depois achei que seria mais interessante escrever um texto sobre o assunto.

Ora então, o pecado da net... e dos jornais e da tv. Sobre esse assunto ouvi o Marcelo Rebelo de Sousa dizer que o que a nomeação do excesso de utilização da net e da leitura dos jornais tinha como objectivo era evitar a alienação dos crentes em relação à sociedade. Ou seja, se uma pessoa estiver demasiado tempo a ler jornais ou enfiado no computador acaba por não se relacionar com os familiares, amigos, vizinhos, paroquianos, etc. E essa motivação para mim até faz sentido. Convém reparar que dentro dos pecados esses não se enquadram na categoria dos mais graves, os mortais. Enquadram-se noutra qualquer (os veniais? Confesso que não sou perito na matéria).

No entanto parece-me ter ouvido numa das muitas notícias sobre o assunto que o termo de comparação para determinar se o tempo dedicado a essas distrações era em excesso ou não, seria o tempo dedicado à leitura da Bíblia. Ou seja, o que seria pecado seria dedicar mais tempo à leitura de jornais, net e tv do que à leitura da Bíblia. Ora aí temos um problema, uma vez que imagino que não haja muita gente a ler a Bíblia regularmente. Estava capaz de apostar que 99,9% dos católicos em Portugal dedicarão mais tempo a fazer seja o que for do que a ler a Bíblia. E existe ainda outro problema. É que nessa perspectiva, a de que a leitura de um jornal é pecado se não se dedicar pelo menos o mesmo tempo à leitura da Bíblia, seria possível passar metade do dia a ler jornais e pesquisar na Internet, a outra metade a ler a Bíblia e nunca se dirigir uma palavra aos concidadãos. Ou seja, alienação total.

Mas pronto, eles são católicos, eles que se entendam.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Não fodais, meus filhos

Este é um tema recorrente e não há grandes novidades excepto pelo facto de um cardeal ter defendido o uso de preservativos entre casais em que um deles esteja infectado pelo HIV / SIDA. Segundo ele o preservativo seria um mal menor justificável face à possibilidade de contágio. Sempre é melhor que a posição do Vaticano em geral e do Papa em particular que continua a achar que não foder é a única solução.

BBC NEWS | Europe | Cardinal backs limited condom use
BBC NEWS | Europe | Pope rejects condoms for Africa

P.S.: Na realidade esta entrada foi mais para poder utilizar o título :-)

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Essa agora...! Não, não, nada disso.

Acabo de descobrir que uma das pesquisas que trouxe alguém ao meu blogue foi "foto gay musculado" no Altavista. Queria desde já esclarecer (aos quatro leitores deste blogue) que não há cá nada disso. Nem fotos de gajas boas eu tenho, quanto mais...

Adeeeuus, 'lusconi, adeus linda serra...


Finalmente Il Cavalier, ou Il Corrupti, como eu carinhosamente gosto de lhe chamar, foi destronado por uma decisão do Supremo Tribunal que confirmou a vitória de Romano Prodi por uma escassa margem. O panorama é um pouco melhor do que tinha sido inicialmente transmitido uma vez que a coligação de centro-esquerda teve não só mais lugares na Câmara de Deputados (348 contra 281 e um independente) como também conseguiu mais dois lugares no Senado (158 contra 156 e um independente).

Mas Il Corrupti, qual valente cavaleiro ainda se agarra aos estribos com as pontinhas dos dedos e recusa nobremente a admitir a derrota.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Battlestar Galactica



Um amigo meu compra séries americanas e tem a amabilidade de mas emprestar. Entre estas séries encontra-se a nova versão da Battlestar Galactica, uma série que fez as minhas delícias quando eu era ainda um jovem rapaz, penso que já nos anos 80 (século passado, portanto).






Para além desta série tem-me emprestado várias séries do universo Star Trek, nomeadamente a série Deep Space 9 que também estou a ver actualmente. Mas a Galactica que nos EUA foi a responsável por pôr o canal SciFi no panorama das guerras de audiência e por destronar o franchising Start Trek, é de facto uma lufada de ar fresco. É verdade que ainda gosto da DS9, mas penso que o franchising Star Trek acaba por ser vítima do seu sucesso. Parece-me que ao racionalizar ao máximo os recursos disponíveis para as diferentes séries, acabaram por cair no síndrome da gaiola dourada. Ou seja, todas as séries se passam dentro do mesmo decor, transmitindo uma sensação de conforto e quentinho (that warm and fuzzy feeling) mas que ao mesmo tempo se torna um pouco asfixiante e claustrofóbica.



Mas voltando à Galactica, a série é certamente dos remakes melhor conseguidos da história da TV. A volta que deram às personagens não se ficou pelas mudanças de sexo. Estas passaram a ter profundidade e a ser verdadeiramente interessantes. Se fizermos um esforço para nos recordarmos das personagens da série original rapidamente chegamos à conclusão de que não passavam de personagens simpáticas e completamente bi-dimensionais. Aliás, toda a série original era para as audiências pouco exigentes do horário de domingo à tarde. De resto tudo na nova série parece ser melhor. Se excluirmos os efeitos especiais, que teriam obrigatoriamente de ser melhores, os argumentos dos episódios são claramente mais adultos, e nem sequer me estou a referir à recorrência do sexo na série. Os novos Cylon, agora com forma humana (ainda que na segunda volta da série original esse elemento já tivesse sido utilizado), é que serão talvez excessivamente evoluídos e penso que muito ainda terá de ser explicado se tivermos em conta por exemplo que já têm preocupações teológicas e até têm uma religião mais avançada que os humanos que ainda acreditam em múltiplos deuses.

É uma série é de facto excelente, sobretudo para apreciadores de Ficção Científica.

terça-feira, 18 de abril de 2006

O impasse iraniano




A situação actual das relações do Irão com o mundo Ocidental é extremamente interessante. O Irão tem vindo a trabalhar de forma ostensiva num programa nuclear. No entanto esta ostensividade só tomou forma após a descoberta em 2002 da existência do programa secreto de enriquecimento de urânio. Embora o programa já decorresse há 18 anos.

Segundo o Irão o seu programa nuclear tem objectivos pacíficos e destina-se a aliviar a dependência do país em relação ao petróleo. Esta dependência relativamente ao petróleo é uma situação peculiar no caso do Irão, particularmente se tivermos em conta que este país é um exportador de petróleo. O problema do Irão relativamente ao petróleo está relacionado com as sanções a que está sujeito por parte dos EUA, que impedem empresas americanas de negociar com o Irão e prevêm sanções contra empresas de outros países que o queiram fazer. Como consequência desta situação e apesar de ser responsável por 5% das exportações mundiais de crude, o Irão não tem refinarias suficientes para dar resposta às suas necessidades internas de combustível. A adicionar a esta dificuldade, os fortes subsídios sobre o combustível levam a uma distorção do consumo. O baixo preço do combustível leva não só a um consumo exagerado como ao contrabando do combustível subsidiado para venda nos países vizinhos. O resultado final deste cocktail é que o Irão tem de importar cerca de 4,5 mil milhões de dólares por ano de combustível, contra os 45 mil milhões de receitas anuais resultantes da exportação de petróleo que financiam 50% do orçamento anual iraniano.

Sendo um signatário do Tratado de Não-Proliferação, e tendo direito a utilizar a energia nuclear para fins pacíficos, é um pouco preocupante que tenha montado um programa secreto de enriquecimento de urânio, em vez de o submeter logo desde o início ao escrutínio das Nações Unidas.

Actualmente as Nações Unidas têm acesso às instalações nucleares, mas ainda não estão convencidas de que tenham tido acesso a toda a informação de que necessitam. Por essa razão exigem ao Irão que interrompa o seu programa nuclear até que as NU se sintam confortáveis relativamente às garantias da orientação do programa nuclear iraniano.

O problema é obviamente um problema de confiança e de intenções. Ou seja, um reactivar do clima da Guerra Fria. A questão que se põe é que ninguém conhece as intenções do Irão. Será que o seu programa se destina apenas a fins civis? Ou será que tem como objectivo a produção de armas nucleares? Será que o próprio Irão tem esse objectivo bem definido ou quererá apenas garantir a opção de se vir a armar com armas nucleares no futuro? Todo este desconhecimento leva a um conjunto de equilíbrios instáveis. O Irão até pode ter o seu programa orientado para utilizações civis, mas a pressão internacional e as ameaças veladas de ofensivas militares por parte dos EUA não poderão alterar o sentido desse programa nuclear? A própria invasão do Iraque e o conceito de guerra preventiva não poderão levar o Irão a armar-se nuclearmente como forma de desencorajar uma ofensiva norte-americana? Por outro lado, será que o Ocidente pode confiar nas declarações de intenções iranianas?

Mais sobre o assunto na BBC News:

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Tá no papo

Estou convencido de que a pena de morte de Zacarias Moussaoui já está no papo. Acusado de ter participado na fase de preparação do atentado contra as Torres Gémeas e o Pentágono e de apenas não ter participado por ter sido detido antes de estes acontecerem, é ainda acusado de ter sido um obstáculo às forças de investigação que poderiam ter impedido os atentados se Moussaoui não tivesse mentido em relação ao que sabia. Esta acusação parece-me um pouco rebuscada, até porque segundo a lei americana, nenhum detido pode ser obrigado a prestar declarações, até porque como eles dizem, "anything you say can be used against you in a court of law". A única solução que vejo para esse impasse seria o FBI ter conhecimento prévio da natureza do ataque e ter-lhe oferecido algum tipo de acordo em troca de informações que lhes permitissem impedir o atentado.

Mas da maneira como o julgamento está a decorrer, com a acusação a mostrar imagens e registos sonoros obtidos durante e após os atentados e com o desdém e gritos de rejubilo do membro da al-Qaeda, e sendo este como é típico nos EUA, um tribunal de juri, penso que é garantida a sentença de morte. Desta forma fica toda a gente contente. O Ministério Público obtém a sua execução e Moussaoui transforma-se num mártir. Quanto às famílias das vítimas não faço ideia, suponho que não será esta execução que lhes trará paz de espírito.

BBC NEWS | Americas | Jurors shown graphic 9/11 images: "Jurors shown graphic 9/11 images Survivors described scenes of panic and horror within the Pentagon A US jury has been shown graphic images of people burned to death in the 11 September 2001 attack on the Pentagon."

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