sexta-feira, 24 de junho de 2005

É favor formar fila de forma ordeira



Recebi um mail da Virgin Galactic a anunciar que estão abertas as inscrições para os primeiro ano de vôos da VSS (Virgin SpaceShip) Enterprise. O bilhete está muito em conta, são só 200.000 dólares. Ao câmbio de hoje dá cerca de 163.000 €. Aceitam um depósito reembolsável de 20.000 USD. As primeiras viagens estão planeadas para 2008.

quinta-feira, 23 de junho de 2005

BBC NEWS | UK | Indian call centre 'fraud' probe

BBC NEWS | UK | Indian call centre 'fraud' probe: "Police are investigating reports an Indian call centre worker sold the bank account details of 1,000 UK customers to an undercover reporter."

O que eu acho impressionante nesta notícia é que através de um caso provocado por um repórter comecem logo a tirar conclusões a respeito da Índia como fornecedor de serviços de call center. Como se em Inglaterra ou na Holanda ou noutro país qualquer isto não fosse possível.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

Só foram precisos 41 anos

Ao fim de 41 anos, o mandante do assassinato de três activistas dos direitos humanos em Mississipi nos EUA, foi condenado por homicídio involuntário. É curioso que o júri de 9 brancos e três negros tenha considerado provado que ele contratou os assassinos para assassinar as vítimas mas não tenha considerado que esse homicídio foi premeditado. Este senhor, hoje com 80 anos é pregador baptista e nos seus melhores dias dava uma perninha no Klu Klux Klan. Agora vai poder disfrutar durante os próximos 20 anos da hospitalidade do sistema prisional dos EUA, onde será certamente bem acolhido pelas tribos arianas que pululam em muitas dessas instalações.



Com todo o respeito que me merece uma pessoa desta idade, tem um belo ar de filho da puta.

BBC NEWS | Americas | KKK verdict sees 'justice arrive': "The families of three US civil rights workers beaten and shot to death 41 years ago in Mississippi have welcomed the conviction of Edgar Ray Killen."

terça-feira, 21 de junho de 2005

Vida submarina

Fizeram o caminho inverso ao dos seus antepassados. À medida que permaneciam mais e mais tempo no mar, foram adaptando o próprio corpo à vida submarina. O processo foi gradual mas incomparavelmente mais rápido que o penoso caminho da evolução. Inicialmente limitaram-se a construir cidades flutuantes. Estas mais não eram que reproduções do mundo da terra firme. As cidades tinham a capacidade de submergir para evitar grandes tempestades e eram construídas em zonas em que o fundo submarino não se encontrava a demasiada profundidade.
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As primeiras cidades eram muito dependentes do comércio com os continentes, de quem obtinham parte dos alimentos, energia e bens de consumo. As cidades flutuantes foram evoluindo para montanhas submarinas, bem ancoradas ao fundo marinho e com um contacto mais completo com o mundo submarino. Os seus habitantes foram-se adaptando a uma vivência submarina mais e mais prolongada. Para além das actividades que traziam mais benefícios se executadas debaixo de água, como a piscicultura, as quintas de algas, a produção de ostras para pérolas. Um número cada vez maior de actividades demonstrava trazer mais benefícios debaixo de água que à superfície. As actividades desportivas beneficiavam de uma movimentação verdadeiramente tridimensional, a espeleologia submarina era cada vez mais procurada. As cidades submarinas foram-se autonomizando em relação aos continentes. A produção de energia passou a ser mais baseada nas correntes submarinas e nos moinhos eólicos diminuindo desta forma o comércio energético. A evolução das técnicas de produção de algas e de piscicultura levou também a uma menor dependência dos continentes. Por outro lado, décadas de consumo incremental de bens alimentares produzidos debaixo de água, reduziram o apetite em relação à comida produzida ao ar livre. As próprias cidades foram sendo transformadas, adquirindo zonas submersas onde era possível desempenhar tarefas mais organizadas debaixo de água.


A medicina e a cirurgia foram encontrando soluções para as necessidades do dia a dia. As primeiras soluções eram apenas tecnológicas, fornecendo dispositivos e meios de transporte mais eficientes e práticos. Mas à medida que a vivência submarina se tornava mais natural que a vivência fora de água, a necessidade de soluções mais definitivas foi surgindo de uma forma natural. As primeiras alterações morfológicas eram simples. A criação de membranas interdigitais facilitava mergulhos de curta duração e a baixa profundidade, evitando o uso de barbatanas.


Para mergulhos a maiores profundidades, os sistemas de respiração utilizando líquidos ricos em oxigénio era já normais mas implicavam algum grau de desconforto e mesmo sofrimento durante as transições. Na fase em que se iniciava a introdução de líquido nos pulmões, os mergulhadores sentiam uma grande angústia, enquanto que na fase de transição inversa o processo de expulsão do líquido implicava vómitos e um grande desconforto. Bastou que um único indivíduo desse o passo de adoptar em definitivo a respiração por líquido para que logo uma multidão o seguisse. Parte das instalações submarinas foram alteradas para servirem a função de casernas e posteriormente de casas familiares. Esta alteração no modo de vida levou a que alguns dos indivíduos acabassem por se suicidar por não se adaptarem, entre outras coisas, à impossibilidade de comunicar através da fala, uma vez que sem ar nas cordas vocais não lhes era possível emitir sons. Essa dificuldade foi ultrapassada com a utilização de sintetizadores de voz adaptados à emissão num meio líquido.


As alterações seguintes foram mais radicais e implicaram o destino das cidades submarinas. Para evitar o desconforto de vestir os fatos de mergulho e os óculos, alguns dos habitantes, poucos ao início deram um passo ousado, aceitando submeter-se a um processo de enrijecimento da pele e à introdução de camadas extra de isolantes térmicos compatíveis com os tecidos humanos. Mantiveram a morfologia normal dos braços mas acrescentaram membranas em torno das pernas aumentando em muito a sua capacidade como barbatanas.


Finalmente a medicina evoluiu de tal maneira que foi possível dar o passo que cortou definitivamente a ligação dos habitantes das cidades submarinas com o mundo terrestre. Os cientistas conseguiram remover o cérebro de um corpo humano, mantendo-o vivo e consciente e colocá-lo num exosqueleto cibernético virtualmente indestrutível. Este mecanismo mantinha as condições de sobrevivência do cérebro debaixo de água, conseguia transmitir sensações tais como a aceleração e o tacto e tinha os seus próprios meios de locomoção perfeitamente adaptados ao meio subaquático. Este exosqueleto, em forma de gota de água, possuía diversos tentáculos que substituíam com vantagem as mãos e os braços. Eram mais fortes e resistentes e eram capazes de executar todas as tarefas dos membros humanos. Embora tivessem a capacidade de sintetizar a voz humana, foram dotados de outros meios mais eficazes para comunicação submarina. Foi criada uma linguagem completa com base no método de comunicação dos cetáceos que utilizava assobios e estalidos. Estes mamíferos marinhos foram também a inspiração para uma adição aos sentidos humanos. Os novos corpos humanos eram capazes de utilizar o seu sistema sonoro para emitir estalidos que eram utilizados como sonar. O sistema de sonar passou a ser utilizado em complemento ou substituição da visão, conforme a luminosidade. Um sistema de detecção de campos electromagnéticos semelhante ao dos tubarões-martelo foi também integrado no sistema de visão/navegação. O exosqueleto tinha uma construção que lhe permitia enfrentar as pressões máximas conhecidas nos oceanos terrestres e praticamente toda a gama de temperaturas, com excepção das elevadas temperaturas criadas pela actividade vulcânica submarina.


Com esta morfologia os novos humanos ganharam acesso a todas as massas de água acessíveis a partir dos oceanos mas perderam por completo o contacto com a superfície. Sem capacidade reprodutiva acabaram por se extinguir

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Tão perto. Tão longe


As pequenas vagas transmitiam uma sensação de paz que lhe acalmava o espírito. Mas o problema mantinha-se. Olhava sem focar para o oceano a perder de vista e pensava no ridículo da sua actual situação. Estava a 2 metros da água, esgotado e sedento. Sabia que a água era potável, mas servia-lhe de tanto como um oceano de cianeto. Como é que a sua vida tinha ido parar àquele preciso ponto no tempo e no espaço, de tal maneira desfavorável que provavelmente seria o fim da linha?
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Tinha conseguido uma passagem para um planeta que servia de entreposto comercial onde esperava arranjar um emprego qualquer. Podia dizer-se que tinha sido a sua última cartada, já que a tinha ganho num jogo de poker. Aliás, tinha sido duplamente a sua última cartada, visto que tinha apostado os seus últimos créditos. Se tivesse perdido estaria em maus lençóis.



As coisas não lhe tinham corrido muito bem no planeta X-2145. Tinha ido para lá depois de terminar o seu curso, para fazer um estágio conseguido através da universidade. O salário acordado não era grande coisa mas tinha perspectivas de evoluir na carreira rapidamente e começar a ganhar um bom salário no prazo de um ano, um ano e meio. Ou pelo menos assim lho tinham prometido. Na realidade as coisas tinham-se passado de modo menos favorável que o que tinha idealizado. O trabalho como químico estagiário limitava-se a umas quantas tarefas simples que em nada lhe aumentavam a experiência. Ao fim de três meses e de numerosos pedidos ao seu superior hierárquico, tinha chegado à conclusão de que ninguém estava muito preocupado com a sua carreira e que no fim do estágio era garantido que o punham na rua. Começou a aproveitar as horas vagas para procurar alternativas de emprego. Aquele jogo de poker tinha sido providencial. Quase tão providencial quanto aquele poker de ases. Isto porque tinha ficado provado que não tinha o mínimo jeito para fazer bluff. No primeiro jogo tinha tentado e isso tinha-lhe custado metade das sua economias. No segundo manteve-se em jogo apenas o tempo suficiente para perder um quarto da sua fortuna inicial. Mas ao terceiro, quando se preparava para desistir e voltar para o seu quarto, calhou-lhe uma mão excelente. Quando pediu duas cartas conseguiu converter duas cartas sem valor em dois ases. Infelizmente, da mesma forma como todos lhe tinham visto na cara o bluff, também o seu sorriso de triunfo foi por demais evidente. Ninguém cobriu a sua aposta. Conseguiu apenas reaver uns trocos e ficar com aquela passagem. No fim do mês recebeu o pagamento da empresa e não voltou lá. Se ninguém mostrava respeito pelo seu trabalho e pelas suas capacidades, não havia de ser ele a preocupar-se com a empresa. Ainda pensou levar uma embalagem dos químicos com que trabalhava, que venderia facilmente no mercado negro e lhe renderia uma boa maquia. Mas a empresa fazia revistas aleatórias aos empregados e depois daquele poker de ases, tentar sair com os químicos seria declaradamente abusar da sorte. É claro que quando saiu da empresa pela última vez ninguém olhou para ele sequer duas vezes.



Passados três dias tinha embarcado num pequeno cargueiro manhoso, que fazia serviço de transporte de longo curso de cargas de terceira categoria. A viagem seria de cinco meses, pelo que tinha a opção de a fazer em animação suspensa. Para a empresa era mais vantajoso manter os passageiros em animação suspensa, uma vez que passavam a ser tão inanimados como a restante carga e davam tanto trabalho como esta. Ou seja, nenhum. Mas os maiores benefícios traduziam-se em créditos. Um passageiro em animação suspensa praticamente não consumia ar, energia, alimentos e água. Tudo isto representava poupanças de combustível. Mais lucro para a viagem, portanto.



Por essa razão, mal os passageiros punham o pé a bordo, o comandante atacava logo tentando convencê-los a aceitar fazer a viagem em animação suspensa. Os argumentos eram invariavelmente um maior conforto, maior segurança e principalmente, o facto de estando em animação suspensa, a sua esperança média de vida ser prolongada na razão directa de dez para nove. Ou seja, por cada dez meses que estivesse em animação suspensa, a sua esperança média de vida seria prolongada por mais nove meses. Para quê desperdiçar dez meses de vida com uma viagem enfadonha quando podia fazer a viagem como se apenas um mês se tivesse passado?



Quando esta argumentação não funcionava, o comandante oferecia-lhes dinheiro. Normalmente os passageiros aceitavam. Afinal de contas, quem fazia viagens em cargueiros não tinha normalmente uma conta muito recheada. Se tivesse certamente optaria por uma nave de transporte mais rápida, mais cómoda, com mais mordomias e actividades de lazer. E muito mais cara, claro.



E Miguel, que nem a passagem tinha pago, aceitou imediatamente e sem pensar duas vezes a primeira oferta do comandante. Nos seus momentos finais de consciência fez uma nota mental - "nunca mais aceitar a primeira proposta que me fizerem. Regatear um pouco primeiro".



Há já uns minutos que a imagem da tampa da câmara de animação suspensa ganhava forma diante dos seus olhos. Era uma imagem que se formava diante dele sem que qualquer pensamento lhe viesse à mente. Ao fim de um tempo, quando a imagem se se começava a parecer com alguma coisa, começaram também a surgir-lhe os primeiros pensamentos. Por exemplo, por que carga de água é que a porcaria da tampa estava sempre a mudar de cor? E que raio de chinfrim era aquele que lhe entrava pelos ouvidos a dentro? Tentou mexer-se mas os seus músculos pareciam não responder. Finalmente a imagem da tampa ficou clara e o chinfrim ganhou contornos de palavras.
- "Perigo de descompressão. A tripulação deve vestir fatos de protecção com a máxima urgência."
Esta mensagem repetia-se em ciclo. A tampa abriu-se lentamente enquanto Miguel matutava sobre o que ouvira. Conseguia perceber as palavras mas ainda não tinha um raciocínio muito coerente, pelo que o seu sentido lhe escapava. Apesar do tom sensual da voz feminina do computador central não o transmitir, ele sentia uma certa urgência em perceber o significado da mensagem. Felizmente que esta se repetia quase que de forma contínua. Entre cada repetição parecia haver apenas o tempo suficiente para que o computador bebesse um pouco de água para clarear a voz. Ao fim da décima quinta vez, o significado da mensagem caiu-lhe em cima como um cometa. A mudança de cor da tampa por cima de si ganhou também significado. Era o flash vermelho da iluminação de emergência. Algo de muito grave tinha acontecido e tinha de se levantar o mais depressa possível. Lutou para ganhar controlo sobre os seus músculos mas sentia-se muito fraco. Normalmente seria apoiado pelo médico de bordo no fim do sono de animação suspensa, mas não parecia estar ninguém por perto para o apoiar. E o maldito computador que não se calava. Era um pouco enervante ouvir estas mensagens de emergência que eram ditas sem o mínimo sentido de urgência. Um pouco como quando se recebe o agente regulador de trânsito nos entrega uma multa por excesso de velocidade com um sorriso amável e nos deseja a continuação de um bom dia.



Aos poucos e poucos conseguiu recuperar o controlo dos movimentos e levantou-se da câmara. Uma porta na parede estava aberta e lá dentro encontrava-se um fato de protecção. À sua volta parecia estar tudo tal como quando tinha entrado em animação suspensa. Nenhum sinal de acidente, nada fora do lugar. Arrastou-se até ao fato de protecção e vestiu-o lentamente, ou tão rápido quanto conseguiu. Deslocou-se então para a porta da sala mas esta tinha sido trancada pelo sistema de controlo atmosférico. Destravou a porta utilizando o manípulo de emergência e abriu-a a custo. Mal se abriu uma fresta sentiu o ar da sala ser sugado violentamente, arrastando consigo uma série de objectos soltos. Agarrou-se com firmeza para não ser arrastado para a fresta. Sentiu-se invadido por uma corrente de adrenalina. O seu coração batia descontroladamente. A situação era bem pior do que ele imaginava. Quando a pressão se estabilizou abriu o resto da porta e saiu para o corredor. Não havia vivalma.



Caminhou até a ponte de comando. A porta da antecâmara estava fechada. Do outro lado havia atmosfera. Utilizou o manípulo de emergência para abrir a porta e depois de a passar voltou a fechá-la. A porta para a ponte de comando também estava fechada e do outro lado também havia atmosfera. Pressionou o comando para reestabelecer a atmosfera na antecâmara e quando a luz verde se acendeu, pressionou o botão para abertura normal da porta da ponte e esta abriu-se imediatamente. Tirou o capacete e desligou o fornecimento de ar. Por precaução activou o sistema de restabelecimento das reservas de ar.



A ponte de comando também estava vazia. Não conseguia ver danos aparentes, mas todas as consolas continham indicadores de perigo. Dirigiu-se à consola do comandante e accionou o sistema de comunicação para toda a nave
- Olá? Existe mais alguém a bordo? - fez uma pausa na esperança de que alguém respondesse, mas nada. Tentou novamente.
- Daqui fala o passageiro que seguia em animação suspensa. Está aí alguém que me possa explicar o que se passa?
Nada. Silêncio total. Sentiu um medo imenso, uma solidão enorme. Era a única pessoa na nave. Ou pelo menos a única viva. Mas ao mesmo tempo apossou-se dele uma enorme excitação. Estava na ponte de comando de uma nave, para todos os efeitos à sua disposição e sob o seu comando. A nave tinha sido abandonada pelo seu comandante e tripulação e ele próprio tinha sido abandonado a uma morte solitária no espaço. Portanto podia fazer o que quisesse com a nave que ninguém podia alguma vez acusá-lo fosse do que fosse. Nem sabia por onde começar. O que é que poderia fazer primeiro? O miúdo grande que ainda tinha dentro dele lembrou-se logo que podia lançar um míssil contra alguma coisa. Algumas naves de carga tinham sistemas de armamento simples, que serviam como desmotivador para piratas mal armados. Procurou a consola do sistema de armas mas ao fim de um tempo chegou à conclusão de que esta nave em particular era tão inofensiva quanto uma vaca no pasto. Ou seja, o máximo que conseguia fazer era abalroar outra nave, o que era uma táctica muito pouco usada no espaço. Por razões óbvias.



Sentiu-se um pouco desiludido, mas nada estava perdido. Resolveu fazer um reconhecimento das diversas consolas para perceber o que poderia fazer com a nave. À esquerda da cadeira do comandante estava a consola de comunicações. Logo a seguir, no sentido dos ponteiros do relógio, estava a consola de navegação. Ia começar a olhar para esta quando um ronco primitivo e assustador se fez ouvir em toda a ponte de comando. Dois meses sem comer davam uma fome de leão. Ficou indeciso entre continuar a sua exploração da ponte e ir buscar qualquer coisa para comer à cantina. "Que diabos", pensou, "até agora não vi nada de realmente urgente". Voltou a ligar o fornecimento de ar, que entretanto já estava a 100%, colocou o capacete, saiu para a antecâmara da ponte de comando e a porta fechou-se atrás de si. A sua ideia era preparar uma refeição rápida. Era um sistema muito prático. Vinham numa embalagem de vácuo e bastava injectar um pouco de água na embalagem e metê-la no forno rápido. Deixar esperar dois minutos, agitar e deitar para uma tigela. Infelizmente todo o equipamento da cozinha estava sem energia. Possivelmente algum mecanismo disparado pela situação de emergência. Teve de se contentar com umas quantas barras energéticas.



Mal a pressão atmosférica foi reposta na antecâmara, abriu uma das embalagens. Sentou-se na consola de comunicações. Estava a ser emitido um sinal de SOS em permanência. O SOS indicava o nome da nave, a empresa a que pertencia, dizia que a nave tinha perdido controlo direccional, as coordenadas actuais, a trajectória que levava e a hora de cada emissão. Esta trajectória era corrigida em tempo real pelo sistema de navegação, uma vez que podia haver alteração devido a forças gravitacionais. Também era afirmado que toda a tripulação tinha sido evacuada e as coordenadas, rota e hora do lançamento das cápsulas de emergência. "Toda a tripulação excepto o otário do passageiro", pensou Miguel. No entanto havia algo que não batia certo. Por que carga de água havia uma tripulação de abandonar uma nave que mantinha as condições de habitabilidade, ainda que tivesse perdido o controlo direccional? Mudou para a consola de controlo de sistemas e pediu um diagnóstico do estado da nave. Parte da nave parecia ter sido arrancada por um grande impacto, mas os sistemas vitais estavam todos intactos e funcionais para as restantes zonas da nave. Ou seja, era perfeitamente possível aguardar na nave por apoio da nave que se encontrasse mais perto. Mesmo que esse apoio levasse meses a chegar, os sistemas de reciclagem de ar e água eram capazes de manter a tripulação sobrevivente durante o tempo necessário. Tinha de haver outra explicação. Activou a consola de navegação e fez uma pesquisa para determinar se tinha havido alguma alteração da rota devido ao impacto. Ora aí estava, de facto na altura do impacto a nave sofrera um considerável desvio. Pediu uma análise da nova rota da nave. A única razão que lhe ocorria para o abandono da nave seria esta estar em rota de colisão com algo. No entanto o relatório não mostrava nenhum obstáculo dentro dos limites de alcance dosa sensores de curto ou longo alcance. Aliás, a nave parecia até dirigir-se para uma zona bastante desimpedida... anormalmente desimpedida... completa e absolutamente desimpedida. A zona do espaço para a qual a nave se dirigia parecia ser completamente vazia. Como um buraco negro! Agora as peças começavam a encaixar-se. Esta zona do espaço não estava muito bem cartografada e uma nave desta categoria não tinha a capacidade de determinar o horizonte de evento do buraco negro. Sem a possibilidade de avaliar o ponto de não retorno, a única medida lógica seria abandonar a nave o mais depressa possível. E a nave já apresentava uma apreciável aceleração, apesar de ter a propulsão desligada.



Rapidamente pediu ao sistema de navegação para localizar os planetas mais perto. Dois planetas apenas. Um deles por demais inospitaleiro mas o outro parecia ter condições para uma aterragem de emergência. Transmitiu as coordenadas do segundo planeta para a cápsula de salvamento restante e voltou a colocar o capacete. Dirigiu-se para a cantina e reuniu todos os mantimentos que conseguiu. Depois foi ao armário onde tinha os seus pertences e juntou rapidamente o que pôde, com especial atenção para o seu computador de bolso, onde mantinha o seu diário, os seus livros, fotografias e todo o entretenimento necessário para se manter ocupado durante as cerca de duas semanas que levaria a viagem para o planeta seleccionado.



A cápsula foi lançada com a potência máxima e manobrou de maneira a perder o mínimo de impulso inicial. A propulsão principal manteve-se activa durante todo o tempo possível para contrariar a força atractiva do buraco negro que já se fazia sentir nesta zona. Quando o combustível da propulsão principal chegou aos 95%, esta desligou-se e foi substituída pela propulsão iónica que iria funcionar em contínuo durante a maior parte da viagem.



A aterragem tinha corrido mais ou menos bem, mas a cápsula perdera a estanquecidade. A afirmação mais simpática que se podia fazer em relação ao planeta era que era o melhor que se tinha conseguido arranjar. Tinha água potável, não era particularmente sísmico ou com uma actividade vulcânica demasiado activa. Tinha era aquele problemazito de ter uma atmosfera venenosa. É claro que podia ser venenosa e corrosiva, por isso e vistas bem as coisas nem se podia queixar muito. A cápsula ligou automaticamente o sinal de socorro, mas Miguel sabia bem que ninguém o viria buscar. Viu ao longe um oceano e dirigiu-se para lá. Já que ia morrer, ao menos que acabasse os seus dias com uma vista bonita.



Sentado a olhar para o mar pensou nas suas alternativas. Não tinha hipótese de voltar a encher o tanque de ar. Com a nave sem estanquecidade a produção de mais ar era impossível. Para além disso era impossível comer ou beber porque não podia tirar o capacete. A única coisa que podia recarregar era as baterias do fato, mas de que é que isso lhe servia? O seu único consolo era que o ar se acabaria muito antes de ter fome ou sede realmente graves. Se bem que um grande golo de água neste momento lhe saberia muito bem. Na realidade tinha apenas mais meia-hora de ar. Perdeu dez minutos a ajeitar a areia de maneira a que se pudesse encostar confortavelmente a ver as pequenas vagas. Os seus últimos vinte minutos passou-os a tentar lembrar-se dos melhores episódios da sua vida. Aos poucos foi perdendo a consciência, até que a falta de oxigénio acabou por o matar.


3º lugar, ganda espectáculo

O Tiago Monteiro conseguiu um feito nunca antes alcançado na história do desporto português que foi o último degrau do pódio no campeonato mundial de F1. O que eu achei mais curioso foi o ar do Michael Schumacher, em mais um 1º lugar da sua carreira enquanto Monteiro festejava esfusiantemente o seu fabuloso e possivelemente último 3º lugar. Pareceu-me ver um misto de estranheza com paternalismo e talvez uma certa nostalgia, certamente pela alegria que sentia quando os seus lugares no pódium ainda eram uma raridade.

DN Online: Monteiro no pódio em corrida polémica: " Português fez por merecer os seis pontos, que lhe dão o 13.º lugar no Mundial de Pilotos"

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Esta perdeste, oh Valentão!

O Tribunal da Relação do Porto indeferiu o recurso de Valentim Loureiro num processo por difamação contra um conjunto de dirigentes do PS de Gondomar que fizeram declarações públicas acusando a Câmara de Gondomar de manter relações promíscuas com o Boavista. O tribunal considerou que as declarações podiam ser consideradas como uma mera crítica sobre a realidade indiscutível. Conforme é escrito no DN "Valentim Loureiro, além de presidente da autarquia, é presidente honorário do Boavista e pai de João Loureiro, o vice-presidente, José Luís Oliveira, era presidente da Assembleia Geral do Boavista e o assessor para o Desporto na autarquia era treinador da equipa de ciclismo.". E consideraram ainda os juízes "Julgamos que o sentimento geral da sociedade portuguesa é o de que a acumulação de cargos, em diversas áreas públicas e privadas, não é desejável".

E eu estou de acordo com os juízes pelo que pergunto, não se poderia consagrar esse sentimento geral da sociedade na própria lei?

DN Online: Valentim perde recurso na Rela?o

"Garganta Funda"

Em relação à recente revelação da identidade do famoso "Garganta Funda", que passou aos jornalistas a informação necessária para expôr o caso Watergate, diz Luís Delgado no DN "Não é muito saudável que um director do FBI revele segredos, não na perspectiva dos media, mas para salvaguarda da sua instituição.".

Não percebo se com isto ele queri dizer que W. Mark Felt nunca devia ter revelado ter sido ele a fonte do Washington Post ou se ele simplesmente não devia ter fornecido as informações.

Em relação à primeira hipótese a única coisa que se pode dizer é que mais tarde ou mais cedo se saberia quem tinha sido o "Garganta Funda" e que tinha sido um agente do FBI. Mas se a perspectiva era a segunda, então as coisas são um pouco mais graves. O dever das forças da ordem e de investigação criminal não é encobrir os actos ilegais dos governantes. O seu dever é zelar para que a lei seja cumprida e para que os crimes sejam investigados. Alguém duvida que o Watergate devia ter sido exposto?

DN Online: DN, CNN e Watergate

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Preservativos vegan

Na minha pesquisa para tentar verificar a veracidade da notícia que referi no meu último texto, encontrei esta outra notícia sobre uns novos preservativos no mercado que são biodegradáveis, precisamente para prevenir fenómenos como os que descrevi. Espero que a tecnologia seja adoptada pelas outras marcas.

Get Ethical - Ethical Matters

Preservativos a perder de vista

Encontrei esta notícia referida num blogue americano mas apesar de ver o conteúdo numa série de outros sítios não encontrei nenhuma fonte realmente credível.

Ao que parece um grupo de cientistas encontrou um recife artificial constituído por preservativos usados. Este recife tinha dimensões bastante assustadoras tendo em conta a matéria de que é feito. Cerca de duas milhas de comprimento, meia milha de largura e alguns pontos com 60 pés de profundidade. A explicação científica para a agregação de todos estes preservativos é que um fenómeno a que chamaram algo como "agregação de semelhantes" (like aggregation), um fenómeno que confirmei que existe e que consiste na concentração de objectos semelhantes por acção dos ventos, das marés, campos magnéticos etc. Um exemplo que dão do mesmo fenómeno são as bolas de cotão que encontramos em casa.

Quando li esta notícia veio-me logo à ideia um filme de terror um bocado para o nojento, o The Blob.

A ser verdadeira, esta notícia chama a atenção para duas questões. Por um lado a necessidade de encontrar fórmulas para tornar os preservativos biodegradáveis, e por outro a necessidade de explicar às pessoas que podem deitar a merda dos preservativos usados na porra do caixote do lixo, em vez de o fazerem na trampa da sanita!!!

Condom Reef Discovered (Sydney, Australia, 1996)

"Oceanographic scientists say they have discovered a vast, floating "reef" of the world's disposed condoms in the middle of the South Pacific, about halfway between Tahiti and Antarctica. The phenomenal mass is almost two miles long, an eighth of a mile wide, and in places up to 60 feet deep, the oceanographers say."

Tabaco de mascar



Ouvi hoje na rádio a notícia de que entrou hoje em vigor na Suécia a proibição de fumar em locais públicos de diversão. Isso não me parece nada de extraordinário para um país como a Suécia, só me espanta ter levado tanto tempo. O que desconhecia por completo e realmente me espantou, foi a explicação para o facto de se esperar um grande apoio à medida. Note-se que o facto de o apoio ser grande não é o que me espanta. O que me espanta realmente é que esse apoio se deva a um hábito dos suecos, que na europa só é partilhado com os noruegueses, e que consiste em mascar uma pasta à base de tabaco, água e sal e a que chamam snus. Muitas suecos que desistiram de fumar passaram numa fase intermédia pela utilização do snus ou adoptaram-na em definitivo. Pelos vistos, tendo os fumadores uma alternativa que não causa incómodo a ninguém, não vão contestar a proibição.

Mas a ideia de os suecos, de quem se tem uma ideia tão civilizada, terem um hábito que tem tão má imagem, parece-me paradoxal. A imagem que tenho da prática de mascar tabaco foi construida pelos western modernos em que se vê cowboys com ar de quem não se lava há já vários meses, com dentes estragados e barba por fazer, a cuspir algo de cor indescritível para um escarradouro a dois metros de distância, que ao acertar-lhe o faz deslocar-se 15 centímetros com o impacto.

Tenho uma certa dificuldade em conciliar esta imagem com a que tenho dos suecos.

History of snuff (snus)

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